OUTRO MODO
Houve uma revolução cognitiva a partir da invenção da prensa por Gutenberg. Isso foi por volta de 1448. Antigo pra dedéu. Mas a tecnologia que permitiu imprimir e fazer cópias de um manuscrito impactou o mundo de forma similar ao que a internet faz.
Antes de Gutenberg apenas a cerejinha do bolo tinha acesso à cultura letrada. Livros eram copiados um a um e guardados em bibliotecas-santuários. Quem leu o livro Nome da Rosa, do Umberto Eco, ou assistiu ao filme, deve lembrar disso.
A partir da tecnologia de impressão surgiram os livros (como os conhecemos hoje), os jornais, as escolas para muitos etc, etc, etc. A alfabetização em massa também veio daí. A prensa mudou a forma de trabalhar, negociar, se comunicar.
Também criou uma maneira de pensar o texto e sua difusão. Essa maneira só foi sacudida pela modo digital de pensar o texto e seu compartilhamento. É também por conta disso que muitos se sentem ora perdidos, ora surpresos com a revolução da internet.
PREFIRA O SIMPLES
Como é que a gente consegue se comunicar simples, escrever simples, desenhar simples, empreender simples, viver simples? Tentando muito, passando por processos complexos, enchendo a mochila de referências.
Em outras palavras: fazer simples é bastante difícil. Fazer complicado é mais fácil. Quer dizer, é mais fácil complicar. Porque atrás dos rodeios, muitas vezes, escondemos a falta de clareza que nos falta.
Quer ser simples? Trabalhe muito! Tire os penduricalhos do caminho. Não se distraia atrás da ideia brilhante. Apenas faça. É no fazer que as boas surpresas costumam aparecer.
Consegue ser simples quem se preparou muito. Pois a pessoa preparada é capaz de enxergar a essência mesmo em matérias e situações embaralhadas.
TRADIÇÃO
Meu pai adorava ler jornais. Fez isso por quase todas as manhãs de sua vida. Ficava muito zangado se alguém esculhambasse os cadernos antes da sua leitura. Ele também separava para descarte imediato os classificados. Eu assisti a esse gesto milhares de vezes.
Hoje compreendo que os veículos de comunicação formam suas tradições. Jornal com seus cadernos, televisão com sua grade de programação, portais digitais com sua organização (que muitas vezes copiaram da lógica de jornais e revistas).
Concordo que vivemos a era da informação líquida fluindo por todos os canais. Muitas e muitas vezes se perdendo pelos ralos do tempo de cada um. Mas mesmo esse mundo líquido já começa a formar seus hábitos, suas repetições.
Foi isso que vi esta manhã na Padaria Pioneira, na Vila Madalena, onde costumo tomar meu café da manhã. Chegaram o pai trintão e o filho de oito anos. Sentaram, pediram o que iam comer. Aí o pai puxou o celular do bolso traseiro da calça. O garotinho repetiu o gesto, pôs os polegares no seu smartphone. É assim que nasce uma tradição.
NOVIDADE
Fico pensando que se o grande Machado de Assis (1839-1908) vivesse hoje, ele seria um blogueiro campeão. Ou seja, teria leitores a perder de vista. E como seria compartilhado!
Alguém pode perguntar: Como assim se suas heroínas, perdedores, sonhadores, aproveitadores são todos do século 19? É fato. Estamos no século 21. Numa efervescência danada.
Mas Machado seria um grande blogueiro, pois sua escrita tem elementos que a internet adora. Parágrafos curtos, enredo envolvente, fina ironia.
Não importa o século, as pessoas adoram histórias. Vivemos para contar e ouvi-las. Quando elas são bem contadas, o blog acontece. Machado de Assis conhecia esse segredo como ninguém.
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