Depois de 11 horas de voo, sem dormir nada, cheguei quebrada. No entanto animada. No aeroporto, houve a calorosa acolhida da Régine Ferrandis e de sua filha Joana, a bela. Joana se casa no dia 30 de junho e essa é a razão principal da minha vinda e da Márcia. Pois vivemos com a Joana quando ela era uma adolescente – essa fase tão especial de descoberta do mundo. É adorável que ela se case em Paris, porque afinal qualquer motivo para rever a cidade é bem-vindo.
Sinto admiração por Paris que preserva com tanto gosto o seu passado. Tão diferente de Sampa – que apesar de eu amar – despreza qualquer construção, marca, símbolo com mais de 30 anos. Cidade que vive de novidades e de reformas. Troca a janela, troca a porta, põe mais dois banheiros. Mete a cozinha onde era a sala e enfia a sala na varanda (que nasceu aberta, mas com a primeira graninha a gente fecha).
Mas voltando a Paris e aos franceses, a questão não é só de forma. Eles não cuidam apenas dos prédios, ruas e símbolos. Eles ostentam orgulho da própria história. Mesmo hoje, passados mais de 200 anos da Revolução Francesa, o slogan Liberdade, Igualdade e Fraternidade está em muitos lugares. Por exemplo, na fachada de uma escola infantil do Quartier Latin.
O Quartier Latin, na Rive Gauche, foi o centro das concentrações das rebeliões do Maio de 68. A juventude na rua fazendo barricadas e pondo pra fora frases memoráveis como A imaginação no poder, É proibido proibir e tantas outras que escaparam da minha memória. Foi um momento máximo da união estudantes-trabalhadores. Utopia? Provavelmente.
No entanto, ter utopias é bastante saudável. Elas são como sonhos coletivos. Muito difíceis de concretizar (aliás, como a maioria dos sonhos). Mas sonhar faz um bem danado. E quando o desejo é coletivo, os olhos marejam num misto de alegria e esperança. Porque ninguém transforma nada sozinho. É uma grande mentira dizer que cada um faz o seu mundo, a sua verdade. Somos – desde sempre – seres interligados.
Mesmo hoje a França que elegeu um presidente de centro – o Emmanuel Macron – segue orgulhosa da sua história, da sua vasta cultura. Me sinto feliz caminhando por aqui. Paris faz bem para os olhos, mesmo quando esses olhos estão cansados. Sinto que a cidade murmura: Valeu a pena tudo o que os mortos fizeram. Sento num café e acendo um cigarro. Aqui ainda pode.
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Texto com gosto de sorvete.
De morango e chocolate. Beijo, minha Cida.
Viajaremos com você, Fernanda. Com suas análises profundas e saborosas, ditas com leveza!
Bon jour!
Obrigada, Marisa. Você sempre generosa. Beijo grande.
Haja luz!! Delícia… Ponto essencial aos olhos: A preservação dos edifícios antigos, sendo que aqui, praticamente não. Aqui, dói ver, dói imaginar.
Ana, comentário iluminado. Muitos beijos.
Fazer o quê?. Ana muito querida.
E para honrar a sua chegada, em pleno solstício, o luminoso estava gigante no céu,como que ofertando um trópico de fantasia para vocês.
Bela recepção. Beijo, Alba querida.
Obrigada, querida, por me transportar nessa viagem maravilhosa! Beijos
Oh, Veroca. Fico feliz com seu comentário. Beijo.
Texto gostoso de ler. Visitei Paris lendo suas palavras, pelo seu olhar. Pena que no Brasil, não só em São Paulo, não valorizamos nossa história, nossa cultura, que é tão rica e tão bonita. Paris deve ser mesmo uma festa para os olhos.
Paris é uma festa para os sete sentidos! Beijo, Ivana querida.
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