Se fosse possível voltar 40 anos, creio que cursaria a Escola Politécnica. Seria engenheira civil. Construiria pontes conectando espaços físicos, palpáveis. Calcularia o valor exato do concreto armado e das vigas de ferro.
Não. Pensando melhor, teria aberto uma loja. Meu trabalho seria contas a pagar, contas a receber, controle de estoque, promoção de vendas. De quebra, estabeleceria uma relação – liquidação a liquidação, gesto no gesto – com a clientela.
No entanto, quis ganhar o brioche de cada dia escrevendo. Projeto extenuante: procurar palavras no recôncavo da língua, ligar uma frase a outra, tecer sentidos mesmo quando o novelo é pequeno.
Virei uma pena de aluguel. Foram décadas esquadrinhando ideias para melhorá-las no papel. Fazendo entrevistas para editá-las com elegância. Lendo textos imensos para transformá-los em parágrafos enxutos. Fugindo do lugar-comum como o camelô do fiscal.
O maluco é que acabei gostando. Primeiro, por amor. Depois, por amor também. Passei a ouvir os clientes e mentalmente editar seus desejos. Compreender as necessidades e imediatamente arranjar os conectores que dão coerência e coesão à argumentação.
Enfim, uma redatora. Aquela que redige por encomenda, morrendo de inveja dos escritores – aqueles que escrevem o que lhes dá na telha.
Tive recompensas: conheci pencas de pessoas interessantes, viajei para lugares instigantes. Mas não sobraram palavras para divulgar o romance da imaginação. Agora com o meu site – esse que você está navegando – posso dizer que voltei a sonhar.
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[…] sou especialista em nada. Sou uma pena de aluguel. Passei boas décadas escrevendo roteiros, spots, slogans, textos para clientes variados. Aprendi a […]
Com certeza sua trajetória foi importante para você ser a escritora e blogueira que é hoje. Foi de muito aprendizado, seu talento só ganhou com isso e nós que acompanhamos e lemos seus textos também.
Oh, Ivana, Obrigada, querida!
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