Nostalgia
Aceitar as mudanças trazidas pelo mundo digital não significa que culturas e hábitos do mundo anterior não tenham mais valor. Afinal, quem dá valor às coisas do mundo somos nós. É fácil entender que objetos, símbolos, serviços percam valor de mercado. Ninguém vai investir em fábrica de discos de vinil ou de disquetes. Muito menos alguém vai pôr dinheiro em máquinas de escrever.
O mercado é implacável, mas não é absoluto. Ainda bem. Daí surgem os nichos dos loucos por vinil, por cartas manuscritas, por carros antigos, por jeans e chapéus. É que há uma esfera afetiva difícil de ser esmagada. Eu que venho do mundo pré-internet, creio que me adaptei muito bem à cultura digital. Mas isso não quer dizer que eu não me lembre do cheio do mimeógrafo a álcool, das lojinhas com máquinas de xerox, do gravador portátil maior do que um tijolo.
Lembro de bibliotecas de livros impressos, de escrivaninhas abarrotas com charmosos objetos. Lembro de espátulas, corretor líquido, papel carbono. Mais importante, lembro do clima do mundo analógico, mecânico, elétrico. Ninguém da minha geração imaginava o que estava por vir. Steve Jobs nasceu no mesmo ano em que eu nasci. Na adolescência, ele já mexia com computadores. Eu, num Brasil sob a ditadura, não sonhava nem em usufruir qualquer tecnologia decisiva.
Pra americano ver
O ditado é velho, sábio, popular: santo de casa não faz milagre. De quanto mais longe ele vier, mais crédito terá. Um exemplo podemos ter na rede Linkedin. Várias pessoas escrevem suas profissões ou funções em inglês. Está certo, sei que o inglês é a língua comercial. Sei que estrangeiros dificilmente entenderão o português.
Mas será que os de fora estão mesmo interessados na gente? Ainda mais agora que a pátria vai mal na fita. Pelo amor de Deus, não sou ufanista e nem chegada em patriotadas. Acho que nacionalidade é acidente. Mas também não sou cega. De forma geral, os ricos e desenvolvidos estão se lixando para o Brasil.
No entanto somos muitos. Temos qualidades de diversidade, criatividade, capacidade inegável de improviso. Acho que poderíamos fazer a rede interna ficar mais forte. E tentar nos comunicar e nos entender em português mesmo.
Sites
Nunca aprendi tanto quanto neste ano de 2016. Aconteceu por eu ter investido num site de textos com o compromisso de alimentá-lo todos os dias. Um site vivo, se é que você me entende. O que eu tinha pavor era de criar uma coisa digital imóvel. Daquele tipo que a gente põe no ar e nunca mais volta. São os sites-pedra, eles estão sempre parados e mudos.
Mas para manter um site vivo, o cérebro faz dobras nos neurônios. Dizem que o ambiente digital mexe com nossa plástica cerebral. Deve ser verdade. Pois se antes a gente escrevia, publicava, cruzava os dedos para os leitores chegarem até o livro, hoje a gente escreve, posta e sai batendo na porta do potencial leitor.
Compartilhar dá um trabalho danado. Porque também não adianta distribuir para as mesmas pessoas. Elas se cansam. É preciso correr atrás de outras redes. Então cultivar redes é a opção? Creio que nem é opção, é obrigação.