Sépia

MADURA Mais de 20 anos de internet comercial no Brasil são suficientes para contarmos a sua história. É certo que há vários livros, milhares de reportagens,…

Ilustra: LS Raghy Ilustra: LS Raghy

MADURA
Mais de 20 anos de internet comercial no Brasil são suficientes para contarmos a sua história. É certo que há vários livros, milhares de reportagens, milhões de postagens sobre o assunto.

Mas justamente seguindo o espírito da grande rede, cabe que eu conte a minha experiência de usuária. Não é só o primeiro sutiã que a gente nunca esquece, a primeira conexão também. Mesmo tendo sido uma conexão discada, lenta, hesitante naquele ano de 1995.

Eu morava no nono andar de um prédio – edifício Dona Anita – na Albuquerque Lins, Higienópolis. Lembro que foi ao cair da tarde que digitei o endereço do Universo Online (UOL). Pronto, entrei em outro planeta. Era ainda tímido se comparado com agora. No entanto, excitante na tremenda novidade.

Ato contínuo criei meu primeiro e-mail (o que uso até hoje). Depois saí dizendo o endereço para os amigos. Frisando o @, pois muita gente não sabia o que era. Ressaltando: Tudo em minúsculo. Parece piada o aviso do minúsculo, porque hoje todo mundo sabe. Mas não era assim. Para entrar na internet, 20 anos atrás, você tinha que aprender.

TEMPO
Esta manhã no meio do trânsito sintonizei o rádio do carro e meus ouvidos deram de cara com mais uma pesquisa sobre leitores no Brasil. É curioso porque sai governo, entra governo. Acaba uma década, começa outra e o que escuto é sempre muito parecido.

Primeiro, aumentou o número de leitores (oba!). Segundo, só 1/4 dos brasileiros entendem plenamente um texto (muito grave). Terceiro, o livro no Brasil é caro (será?). Quarto, o número de bibliotecas públicas é risível (mais do mesmo).

A pesquisa ouviu os leitores. A maioria disse que leria mais se houvesse tempo. Para mim faz sentido. O tempo se tornou a moeda de ouro da nossa época. Publicitários e blogueiros sabem disso.

É desafio tremendo conquistar o tempo livre das pessoas. Uma das razões evidentes é a escandalosa oferta de conteúdos, canais, plataformas, aplicativos, jogos. Outra razão é que leitores, usuários, navegantes ainda não calibraram seus filtros.

SÉPIA
Tenho fascinação por fotos antigas, não por elas serem antigas, mas pela viagem para atrás que proporcionam. Sempre compreendi que quando foco no passado o presente se ilumina.

Observando uma foto do saguão do aeroporto de Congonhas, provavelmente nos anos 40/50, me faz lembrar que:
1 Ninguém tinha celular
2 A palavra internet talvez nem existisse
3 Só uma minoria tinha carro e telefone
4 Viajar de avião era para o bolso dos ricos
5 Apreciar da varanda de Congonhas decolagens e aterrissagens era para todos.

Volto a olhar as pessoas da foto. Tirando as diferenças tecnológicas, puxa, parecem tão iguaizinhas às de hoje.

REVOLUÇÃO
Nas aulas de história quando o assunto era a Revolução Industrial, é claro que eu ficava impressionada com os avanços do carvão, com o advento das locomotivas. Também me dava profunda pena saber das condições de trabalho de adultos homens e mulheres, velhos e crianças dentro das fábricas.

Mas o que me impressionava para valer era imaginar o desmonte de um mundo inteiro. Os artesãos perdendo sua arte para as esteiras fabris. Por mais belo que fossem seus objetos, eles não tinham escala. A mesma coisa acontecendo com ferreiros e marceneiros.

Também me soava tremendo as pessoas terem que deixar suas casas para trabalharem fora. Nas fábricas, escritórios, depósitos. Sem falar no cartão de ponto, na tarefa repetitiva, na negação de qualquer autoria. Mundo que gira, hoje vivemos uma outra revolução, a digital. Verdade que estamos apenas na infância dela.

Soa curioso ver muita gente perder seus empregos e voltar a trabalhar em casa. Quando alguém diz: Você tem que ser relevante, imprimir uma espécie de assinatura lembro dos nossos tataravós artesãos. Seja lá onde eles estiverem, creio que dão risadinhas em nossa direção.

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