POR QUE PAROU?
No jornal O Globo de hoje o engenheiro Robert Frankston – um dos criadores da primeira planilha eletrônica – diz que a tecnologia anda meio devagar. Muita gente, mesmo leiga, já percebeu que inventa-se algo de impacto e depois vêm anos de perfumaria.
O iPhone – lançado por Steve Jobs em 2007 – causou uma revolução. Mas depois, a cada versão, só vieram reformas brandas: tamanho de tela, cor, pixels. Nada substancioso. Samsung idem.
Talvez seja assim mesmo que as tecnologias funcionem. Atingem o ápice e então repousam até nova ruptura que pode demorar anos, décadas, séculos. Cá para nós: Ninguém inventou a roda depois da roda.
Outra coisa legal que o Robert Frankston chama a atenção é para a precisão, para o fato de todo mundo ter que entender mais sobre a internet. Confira a justeza desta frase: Ninguém acessa a internet. Você acessa um site. A internet é só o meio. Bacana pensarmos sobre o que é meio e o que é fim.
HÁBITOS
Toda manhã vou para a padoca folhear meu jornal impresso. O maluco é que assino a versão digital. Poderia ler na telinha boa do meu smartphone. Mas não resisto ao virar de páginas. Faço isso por hábito.
Hábitos arraigados são também patrimônios afetivos. Ler jornais impressos foi a grande paixão do meu pai. Por toda sua longa vida. Agora que ele está morto, repetir seu gesto é também uma maneira de “estarmos juntos”. Acredito que o hábito (qualquer um) deva ser considerado com mais atenção pelos inovadores.
Ao se pensar em engajamentos de leitores, não devemos desprezar hábitos. Por exemplo, leitores de meios digitais ainda têm comportamentos herdados da cultura gutemberg. Eles apreciam a regularidade de postagens, a serialização, o lide, a autoria etc.
TRAMPOLIM
Diz a canção de Caetano Veloso: “No ar antes de mergulhar, dance, dance, cante, cante”. É mais ou menos como eu me sinto quando clico no botão compartilhar.
Não o faço por exibicionismo, menos ainda por vaidade. Compartilho por sustentabilidade. Afinal a grande jornada é deixar rastros digitais. Miolos de pão virtuais para que nos encontrem.
Quando me perguntam qual é a minha principal pergunta, respondo sem titubear: Quero saber como tornar meu barquinho visível no oceano. Já fiz cursos, vi vídeos bem legais sobre marketing digital.
Mas a imensa maioria trata de marcas e produtos. Sinto falta de roteiros para sites pessoais e de prestadores de serviços imateriais. Alguém tem alguma dica?
RONDA
Uma amiga perguntou: você tem assunto para escrever todos os dias no Diário Digital? Respondi: É claro, pois venho de um outro mundo. Aquele de salas de aula com quadro negro e professor no tablado. Aquele de visitas físicas a museus e jardins botânicos.
Venho do mundo do telefone preto e fixo. Das folhas de estêncil, dos mimeógrafos, das copiadoras de xerox. Dos livros em estantes. Em outras palavras, sou filha de Gutemberg e bisneta do Newton. Venho da lógica de autores, editores, gráficas.
Daí nos meus 45 anos fui pega pela internet 2.0. Entrei no universo dos blogs, na galáxia de todos falando para todos. Levei um grande susto por suposto. Mas amei a ideia do rascunho permanente e a alternativa de corrigir erros imediatamente.
Depois de eu falar tudo isso, minha amiga concordou que falta de assunto não será o problema.
REIS
Desconheço o autor da frase, mas acho ela é muito boa: Um leitor aborrecido é o fracasso do escritor. Que tristeza quando alguém abandona a leitura do nosso post logo no primeiro parágrafo.
Por conta disso encurtamos cada vez mais o texto, evitamos palavras incomuns. Tentamos ser um pouco engraçados, um pouco irônicos. E, de preferência, sempre amigáveis.
Mas mesmo assim, ninguém tem certeza 100% de que o leitor não desistirá de nós. Tem muita gente boa que diz: O conteúdo é o rei. Não é. O rei é o leitor. Ou se o seu negócio são vendas, o rei é o consumidor.
No entanto há algo que me intriga e inquieta. É preciso mais do que não aborrecer o leitor. É preciso surpreendê-lo. Por exemplo: escrever algo que ele não está esperando. Para começar a fazer isso é necessário rasgar os manuais da boa escrita.
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