Ouvi a frase de uma taxista: “Para dizer que o meu filho é bonito, não preciso dizer que o filho do vizinho é feio”. Fiquei boquiaberta com a clareza da formulação. Enfim, o filho do vizinho não precisa ser feio e burro para que o meu seja bonito e inteligente.
Passei a rememorar as várias situações em que para valorizar uma ideia minha, desvalorizei a ideia de um outro. Quantas vezes para autorizar minha opinião desautorizei a opinião de um terceiro. A frase da taxista arejou minha cabeça.
É muito popular a estratégia de reforçar as próprias qualidades em cima dos defeitos alheios. Para declarar que meu nariz é gracioso, aponto que o da outra é horroroso. Esquecendo que minha trompa pode ser vistosa, mas idem outras infinitas trompas.
Candidatos a eleições fazem isso o tempo todo. No lugar de propor novas ações, ficam escrachando as intenções dos rivais de voto. É incrível como o adversário sempre fez pior: “Não tem hospital, porque o político do outro partido não quis. Já se eu for eleito…”.
No mundo do trabalho, a prática de desancar os concorrentes está relacionada ao vício de se defender pelo ataque: “Compre o meu produto, porque o da concorrência não presta. Navegue no meu site, pois os outros são desinteressantes e mal escritos”.
Também tem a ver com falta de autoestima. Ou mais cirúrgico, tem a ver com a insegurança em relação ao próprio ofício e às convicções. Mas se o que fazemos tem mérito, pouco importa o que fazem os outros.
Qual o benefício? Mostrar para o chefe, cliente, consumidor, leitor as qualidades intrínsecas do meu produto ou serviço. Ele é bom não por conta dos outros serem necessariamente inferiores. É bom pela qualidade, consistência, taxa de inovação.
É óbvio que não vou virar santa, nem madre piedosa. Não vou sair por aí elogiando todo mundo. Mesmo porque têm aqueles que não merecem mesmo. Mas não vou vestir a camisa de oportunista falando mal da concorrência.
Meu trabalho é bom pois reflete minha personalidade única. Assim como o seu e o de qualquer outra pessoa. Se uma pessoa ama Roberto Carlos nao vai, necessariamente comprar Caetano Veloso. Nem o melhor vendedor conseguiria isso. No fundo estamos ávidos por uma personalidade que nos arrebate.
É sempre esse embate eu/outro, individualidade/coletividade, marca pessoal/marca social etc. Mas o conflito pode ser “negociado”. Pois sem negociação, vem a violência. Obrigada pela leitura, Marisa.