Falou em Paris pensou em museus. Afinal a cidade é o endereço do Louvre, do Orsay, do Rodin, da Fondation Louis Vuitton. Passam trem, avião, bicicleta, carro, ônibus, metrô, gerações e as filas não param. Toda a gente sai com a cara feliz depois das visitas. É também a celebração dos originais. Quem, num mundo de cópias vertiginosas, não gosta de olhar para a Mona Lisa (a verdadeira)?
Mas museus têm curadores, ordenação estética, percursos planejados que ajudam a nossa emoção. São também almoços pagos. Ontem para curtir a exposição de arte africana na Louis Vuitton, deixei 18 euros na bilheteria. Valeu cada centavo. Mas o que é pago não é para todos os olhos.
Bem diferente da arte de rua – o grafite. Essa se estampa nos muros, das paredes, nas ruas onde passamos. Faz uns dias, flanando por Belleville dei de cara com uma travessa toda grafitada.
Logo percebi que as casas e o pequeno comércio estavam desocupados. Lugares sem donos são territórios abandonados. Então há uma ocupação – ao menos simbólica – da área. Como se fosse uma lousa vazia clamando por letras e números, por significantes.
Não apenas isso. Na arte do grafite, há uma estrondosa contemporaneidade. Uma vontade apressada e inclemente de expressar os conflitos, as violências, as contradições que nos acossam. Uma expressão que reivindica a própria expressão. Há também, segundo uma tradição plástica, algo grosseiro nos traços. Uma taxa de sutileza baixa. Parece uma manchete sem o corpo da notícia: Olha, estou aqui! Olha, quero mostrar a sujeira da sociedade. Olha, estamos todos no mesmo barco. À deriva.
O sentimento que eu tenho é de um diálogo entre o que cabe dentro dos museus – arte ordenada e essa arte extra-muro. Grafites não têm curadorias e nem bilheterias. Grafites não pedem licença ao nosso olhar. Não existem sob demanda. Não somos nós que os procuramos. Eles é que nos encontram.
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Que viagem fecunda tem sido essa!
E você acreditou que escreveria um pouco menos durante essas férias!
Tá!
Marisa, bom dia! Pois é. Escrever é uma coceira sem fim. Na próxima segunda, chegarei em Sampa. Acho que vou precisar tirar férias das férias.
Fê …. é uma delícia e uma viagem ler tuas observações iluminadas sobre a “cidade luz”. Como sempre, tua sensibilidade e maneira de contá-la é um deleite.
Schuma querida, fico muito feliz com o seu comentário. Afinal você acabou de passar por Paris. Viu o que eu vi.Beijo.
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