México, 1987

Luzes do México. Candelabros de uma cidade infinita. O coração toca no solo – é o avião que aterriza. Aperto o cinto, a viagem começa agora….

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Luzes do México. Candelabros de uma cidade infinita. O coração toca no solo – é o avião que aterriza. Aperto o cinto, a viagem começa agora. Então estou no México. É domingo, a praça de Coyoacán está em festa. Fogos festejam meu olhar. Passeio a manhã na cidade larga e horizontal. Ao redor, montanhas.

Estar num país pela primeira vez é voltar a ter olhos de criança. O olhar quase se afoga no líquido da emoção. 24 horas – ouvindo a alegria ruidosa dos mariachis com seus violinos, guitarras, trombetas.

No centro da cidade vejo marcas do grande terremoto de 19 de setembro de 1985, quando a cidade tremeu num espasmo de concreto. Desequilibrou-se na base. Mortos e feridos. A cidade exibe: prédios retorcidos, entortados na estrutura. No lugar de dois grandes hotéis que ruíram completamente foram construídas praças. Os mexicanos a chamam Solidariedade.

Faz três dias que estou no México, parecem duas semanas. Emoções intensas. Freneticidade. O espírito está com as janelas abertas. Manhã de um azul quase insuportável. Caminho pelo Zócalo, centro histórico da cidade do México. De longe a maior praça que vi no mundo. Entro no Palácio do Governo – murais de Diego Rivera: imensos, lindos, abrangentes.

Domingo: ágil, rápido. No México, domingos são estados de espírito. Visito o Museo de Antropologia. Ele abriga fragmentos do universo pré-colombiano. Se não soubermos o que fomos, como saber o que somos? Choro minha própria ignorância.

Às vezes penso que pertenço à primeira geração de mulheres que nos lançamos pelo mundo, sem homens. Antes somente eles faziam isso. Minhas duas avós, minha mãe não fizeram. Bebo essa oportunidade gota a gota.

Crepúsculo, a beleza é tão grande que as lágrimas se libertam. Caminho pelas ruas ou será que as ruas caminham por mim? Paro para comer no restaurante América na avenida Juárez. Em frente a um prédio derruído pelo terremoto. Nunca havia almoçado diante de cenário tão insólito.

Dias mexicanos de azul profundo. Um ser/estar ao mesmo tempo. Estar aqui e ser aqui. Olhares que não são cotidianos. Imagens que entram no inconsciente para no futuro se transformarem em frases. Compro uma caderneta, escrevo. A cidade do México magicamente joga minha imagem de encontro a mim mesma. As lágrimas molham paisagens. Jardins que andam.

Os dias (passam) como palitos de fósforos acesos. Porque tudo é muito intenso. Tudo se recupera, se realimenta. Mentira, coisas se perdem. Algumas para sempre. As nuvens se curvam e simplesmente desaparecem. Grinaldas.

Escrevo na minha caderneta: Palavras não são lágrimas na chuva. Palavras são caminhos.

14 de outubro. Completo 32 anos nos arredores da cidade do México, em Teotihuacan. Pirâmide do Sol, beleza de forma. Pirâmide da Lua –  a do Sol é mais bonita se vista de fora para dentro. A da Lua é ao contrário – será coincidência? Altas energias. Toco, sem cansar, uma ocarina  Onde tudo começou ou terminou? Novidade de combinações. Impulsos que saem do mundo para a alma e vice-versa? Um susto largo.


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