Estereótipo é uma coisa complexa. Faz vítimas. Mas também ajuda o cérebro a economizar pensamentos. Tem uma função de carimbo. Aí você pega a matéria carimbada e despeja nas gavetinhas: confiável, perigoso, semelhante, diferente, burro, inteligente etc, etc, etc.
Nem sempre a gente é vítima. Em Sampa já passei por umas 5 Blitze (palavra alemã, por sinal) de trânsito e nunca fui parada. Por conta do estereótipo. O guarda vê: branca, mulher, 60+. Seu cérebro manda a mensagem: inofensiva. Ele faz gesto nervoso para eu seguir em frente.
Já se o motorista for negro, homem, jovem, a máquina de estereótipos carimba: suspeito. Provavelmente será parado na Blitz. Há também as etiquetas aplicadas às nacionalidades. Brasileiro tem que gostar de samba, mesmo que milhões não curtam a batida e nem deem passinhos.
Franceses gostam de queijo. Dizem que há mais de 100 tipos. Mas conheci uma família inteira – franceses vindos dos gauleses – que detestam queijo. Ingleses são formais, mas eles têm a irreverência dos Rolling Stones, do David Bowie, da Virginia Wolff.
E qual o maior estereótipo para enquadrar os alemães? Certinhos. Andam na linha. Respeitam filas. Observam os avisos de entrada e saída. Lembre do slogan dos carros VW (o carro do povo): Volswagen você conhece, você confia.
Daí você chega em Berlin e fica surpresa. Encontra uma cidade toda verde. Se depara com um designer arrojado, o ócio convidativo. Uma cidade de bons vivants. Quebra o estereótipo de que povo organizado é povo careta. Os berlinenses organizam a cidade para viverem e curtirem melhor. Isso não tem nada a ver com caretice.
Estou na casa de duas amigas queridas – a brasileira Cida e a alemã Iris – passando muito bem. O apê fica em Berlin Leste. Dá um arrepio pensar que havia um muro impedindo que as pessoas passassem para a outra Berlin, a Oeste. Paulistanos conseguem imaginar Pinheiros separado das Perdizes por um muro?
Sei também que parte do estereótipo contra os alemães vem da Segunda Grande Guerra (1939-1945). Eles foram os nazistas da História. Barbarizaram. No fim, perderam a guerra e arcaram com um país destruído e na sequência dividido entre capitalistas e comunistas.
Mas quando a gente pisa em Berlin, compreende que o horror infligido e sofrido ficou no passado. Eles e elas se reinventaram. Tornaram sua economia, cultura urbana e sociedade pulsantes. Qualquer uma – como eu – pode curtir a Alemanha numa boa.
Leia também Paris-Berlin de trem
[…] de tempo para perceber que pertencer a um grupo – com regras, dogmas, hierarquias – era aceitar um carimbo no meio da testa. Algo exterior a você, mas que virava sua […]
Precisaria ir para ver ainda carrego preconceito contra os Alemães afinal faz pouco tempo que ocorreu a barbárie do holocausto do Nazismo espero que neles não existam a semente do Nazismo em seus corações sou super esquerda e aprendi que não podemos dar brechas ao totalitarismo de Direita.
Cristina, nazismo, totalitarismo, eugenia estão em muitas mentes, espalhadas pelo mundo inteiro. Concordo que não devemos dar brechas. Beijo e obrigada pela leitura.