Nicolas, o guia da excursão de hoje, conta que provavelmente o deserto do Atacama foi mar. Lembro que alguém disse que a Terra – antes de ser Terra – foi mar. Talvez por isso ele ande invadindo o calçadão do Leblon no Rio, trechos de praia da Ilha do Mel no Paraná. Vai que o oceano, qualquer hora, resolve tomar posse do que já foi seu.
Seja como for, o Atacama é um excelente lugar para a gente observar o velho e o novo ao mesmo tempo. Pois se há pedras consolidadas em milhões de anos, há o vento mudando tudo de lugar. Aqui a paisagem nunca é a mesma. Venho todos os dias e os todos os dias é diferente – o simpático Nicolás conclui ao estacionar a van na entrada do Valle de la Luna.
Vim para este passeio sem perguntar o porquê da Lua no nome. São 4 horas da tarde. O sol é o rei. Começamos a caminhada. O objetivo é um mirante rochoso. Não demora muito e estou pondo os bofes para fora. O caminho é estreito. Meu tênis afunda no areão.
Todos do grupo, incluindo minha amiga Márcia, tomam a minha frente. Sou a última. Penso em dá meia volta, retornar à entrada. Mas não faço porque meu saudoso pai me socorre: Vá em frente, não desista. A vida é persistência.
O Nicolas percebe minha dificuldade, espera que eu o alcance. Então me consola: Esta é a parte mais difícil do trajeto. Ande devagar. Quando chegarmos lá no mirante terá valido a pena. Brinco com ele: Será que vou sofrer bullying por ser a atrasada do grupo? Rimos. Ele me dá a mão para ajudar na subida final.
Enfim no mirante entendo tudo. É o Vale da Lua porque a diagramação das pedras e da areia dura lembram a superfície lunar. A Lua na Terra, meu Deus! Me vem a pergunta de infância que mamãe adorava fazer aos filhos pequenos: Como é que pode um homem virar bode? Pode.