Estou no aeroporto Comodoro Arturo Merino Benítez de Santiago do Chile. Vou pegar o voo com destino ao deserto do Atacama. Lembro do meu amor aos Andes. Na juventude fui mochileira escol. Subi ladeiras em La Paz, cruzei praças em Quito, pernoitei na savana de Bogotá. Experimentei cogumelos em Villa de Leyva, observei mineiros em Potosí e passei meio carnaval em Oruro. Como muitos da minha geração, conheci o lago Titicaca, Puno, Arequipa, Cuzco, Aguas Calientes e a absoluta cidadela de Machu Picchu. Mas por razões e desrazões, das quais não me recordo mais, nunca fui ao Atacama. No entanto sempre pronunciei com reverência seu nome. A imagem do deserto deu muitas voltas em mim. Quando papai, na cama do hospital, já não conseguia abrir os olhos, eu disse para ele: Pai, você está atravessando um deserto, é muito difícil, mas você chegará do outro lado. Para mim, a visão deste deserto não era o do Saara, mas o do chileno. Também ao ouvir alguém dizer Estive no Atacama arregalava os olhos de encantamento. De maneira que agora, aos 61 anos, sou grata à vida por essa oportunidade de finalmente subir no avião da Latam para realizar um sonho que de tão antigo imaginava morto.
ATACAMA – Desejo
Estou no aeroporto Comodoro Arturo Merino Benítez de Santiago do Chile. Vou pegar o voo com destino ao deserto do Atacama. Lembro do meu amor aos…