Vou escapar da armadilha de afirmar que o pôr-do-sol no Atacama é o mais hermoso do mundo. Porque sei que cada um tem o seu predileto. Meu sobrinho Igor, morador da paulista Presidente Epitácio – vive postando no Face vídeos do entardecer no rio Paraná, com a frase O pôr-de-sol mais bonito do Brasil. Daí nessa briga não entro.
Mas é um espetáculo o entardecer no Atacama. Não exatamente pelo sol, mas pelas cores espalhadas nos vulcões e no céu. Para não perder nenhum ângulo, fiquei girando como barata tonta. E tirando fotografias de cego, pois a extrema luminosidade impede ver a telinha do celular. Nisso, a Márcia me socorreu: Fica tranquila, aqui no Atacama não tem como tirar fotos ruins. Posto o sol, fomos para a van.
A próxima excursão foi noturna e com o divertido nome de Astro Tour. O prospecto prometia que veríamos estrelas por meio de super telescópios. Eu, pessoa desconfiada, temia um show pirotécnico. Estava enganada. O Astro Tour foi uma experiência maravilhosa.
Quem guiou nossos olhos pelo céu estrelado foi o astrônomo Alvaro. Com sua lanterna laser, ele apontava para os astros. Total apaixonado, focava na brilhante Antares e nos planetas Vênus e Marte – este que povoa o imaginário de toda a gente.
Alvaro insistiu que os humanos somos privilegiados. Encontramos condições de vida em um modesto planeta dentro de um universo bem mais fabuloso. O que é a Terra no meio de toda essa grandeza? É claro que ninguém respondeu. Perguntas grandes inibem.
Fomos convidados a usar os telescópios potentes. A observar nebulosas, constelações, o incomensurável. Antes de cada um meter o olho, Alvaro ajustava a mira. Solene convidou: My friends agora vocês verão Saturno!
Formou-se uma fila indiana. Quando chegou a minha vez, respirei fundo e olhei. Pronto, lá estava Saturno, o gigante gasoso, e seus anéis. Levei um choque: vi tantas vezes a representação gráfica de Saturno, mas essa era ao vivo.
A observação durou menos de 30 segundos. No entanto tive a certeza que Saturno virou carimbo na minha memória. Sabe quando você vê alguma coisa e imediatamente percebe que jamais a esquecerá? Foi assim.
[…] O futuro dependia do que ele realizasse no presente. Ele se parecia cada vez mais com seu pai, Saturno. Também foi ficando careca e um tanto cínico. Aos domingos, dava-se ao luxo de acordar mais […]
[…] trancou-se no quarto. Apesar da escuridão não acendeu a luz. Deitou-se na cama e olhou para o Saturno fosforescente grudado no teto. Bem que ele poderia aceitá-la para fazer companhia aos seus […]