Alguém já disse que mais do que formados por células, somos formados por histórias. Acrescento: não só nós. Os sanduíches também. Conheça a história do bauru, nascido no Ponto Chic do Largo do Paissandu
Na quarta-feira passada, zanzando pelo centro de Sampa, entrei no Ponto Chic do Largo do Paissandu. É claro, pedi um bauru. Afinal esse histórico sanduíche, nativamente paulistano e conhecido em todo o Brasil, nasceu exatamente no bar Ponto Chic do Paissandu.
O Ponto Chic foi inaugurado em 1922, o ano da Semana de Arte Moderna – essa que marcaria a cultura brasileira para sempre. Contam que muitos modernistas comiam e bebiam por lá. Entre eles, as pintoras Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, os escritores Oswald de Andrade e Mario de Andrade.
Mario em um poema genial pede aos amigos que quando ele morrer espalhem pedaços de seu corpo pela cidade: No Paissandu deixem meu sexo. O pedido do poeta fazia sentido. O Largo do Paissandu era uma Vila Madalena dos anos 1920. O epicentro da vida boêmia sampalina.
Antes dos modernistas, o Paissandu já havia sido palco de várias manifestações da cultura popular. Lugar onde o povo se encontrava para se entreter, muito antes do rádio e da televisão. Por lá passaram circos, danças afro-brasileiras, faquires, elefantes da Índia.
Hoje o Paissandu, como grande parte do outrora belo centro de São Paulo, está caidão. Muitos paulistanos deram as costas para a região. Existem garotas e garotos que nunca circulam pelo Largo, com exceção dos amantes do pop, pois lá também está a Galeria do Rock.
Pode até ser que agora com a recém inauguração do Sesc 24 de maio – projetado pelo premiado arquiteto Paulo Mendes da Rocha – o entorno do Largo volte a dar alegrias culturais. Fará muito bem à cidade.
No Paissandu, ainda sobrevive a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Construída por volta de 1908, em sistema de mutirão, por mulheres e homens negros. Por razões óbvias, a Igreja dos Homens Pretos tem um significado especial para a população negra. Também é verdade que garotas e garotos negros pouco sabem disso.
O Ponto Chic resiste no Paissandu, atende a uma clientela eclética, como eclética é a cidade de São Paulo. Talvez de todas as capitais, Sampa seja a que mais entenda a palavra diversidade. Por aqui navegam todos os tipos, tipinhos e tipões. Do motorista de Brasílias amarelas aos de Tucsons prateados.
A história oficial da criação do bauru no Ponto Chic é a seguinte: um estudante de direito de outro largo, o de São Francisco, apelidado pelos colegas de Bauru por ter nascido nessa cidade, pediu ao sanduicheiro: Pão com queijo, rosbife, tomate e pepino.
Agradou a receita! A turma da Faculdade de Direito entrava e pedia um bauru. Daí o sanduba pegou. Outros bares e padarias passaram a fazer esse combinado. Verdade que na imensa maioria saiu o rosbife, entrou o presunto. E o pepino sumiu.
Digo história oficial, pois há outra versão. Mais proletária. Ela conta que o sanduíche teria sido inventado por um garçom do Ponto Chic, o Bauru, também ele nascido na cidade a 345 km de Sampa.
Convivem essas duas versões. Duas caras como a do próprio Largo do Paissandu. Duas caras como a do próprio Brasil. Uma de um representante da elite, futuro advogado. Outra, de um representante do trabalho duro e mal remunerado. Ao fim, nós os brasileiros, somos um sanduíche!
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Que boa pedida Fernanda! Sanduíche com história! Fui muito lá! Adorei!
Malu, com história fica tudo melhor. Beijo e bom próximo bauru!
Bauru legítimo é uma delícia. Experimentem e não vão se arrepender.
Hunmmm! Beijo, Jeronimo querido. Obrigada pela leitura.
Essa é a história mais saborosa que você contou!
Oh, que delícia, Cristina! Deve ser influência do sabor que tem um bauru. Beijo!