
Falou em Paris pensou em museus. Afinal a cidade é o endereço do Louvre, do Orsay, do Rodin, da Fondation Louis Vuitton. Passam trem, avião, bicicleta, carro, ônibus, metrô, gerações e as filas não param. Toda a gente sai com a cara feliz depois das visitas. É também a celebração dos originais. Quem, num mundo de cópias vertiginosas, não gosta de olhar para a Mona Lisa (a verdadeira)?
Mas museus têm curadores, ordenação estética, percursos planejados que ajudam a nossa emoção. São também almoços pagos. Ontem para curtir a exposição de arte africana na Louis Vuitton, deixei 18 euros na bilheteria. Valeu cada centavo. Mas o que é pago não é para todos os olhos.
Bem diferente da arte de rua – o grafite. Essa se estampa nos muros, das paredes, nas ruas onde passamos. Faz uns dias, flanando por Belleville dei de cara com uma travessa toda grafitada.

Foto Fernanda Pompeu
Logo percebi que as casas e o pequeno comércio estavam desocupados. Lugares sem donos são territórios abandonados. Então há uma ocupação – ao menos simbólica – da área. Como se fosse uma lousa vazia clamando por letras e números, por significantes.

Foto Fernanda Pompeu
Não apenas isso. Na arte do grafite, há uma estrondosa contemporaneidade. Uma vontade apressada e inclemente de expressar os conflitos, as violências, as contradições que nos acossam. Uma expressão que reivindica a própria expressão. Há também, segundo uma tradição plástica, algo grosseiro nos traços. Uma taxa de sutileza baixa. Parece uma manchete sem o corpo da notícia: Olha, estou aqui! Olha, quero mostrar a sujeira da sociedade. Olha, estamos todos no mesmo barco. À deriva.

Foto Fernanda Pompeu
O sentimento que eu tenho é de um diálogo entre o que cabe dentro dos museus – arte ordenada e essa arte extra-muro. Grafites não têm curadorias e nem bilheterias. Grafites não pedem licença ao nosso olhar. Não existem sob demanda. Não somos nós que os procuramos. Eles é que nos encontram.

Foto Fernanda Pompeu
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Que viagem fecunda tem sido essa!
E você acreditou que escreveria um pouco menos durante essas férias!
Tá!
Marisa, bom dia! Pois é. Escrever é uma coceira sem fim. Na próxima segunda, chegarei em Sampa. Acho que vou precisar tirar férias das férias.
Fê …. é uma delícia e uma viagem ler tuas observações iluminadas sobre a “cidade luz”. Como sempre, tua sensibilidade e maneira de contá-la é um deleite.
Schuma querida, fico muito feliz com o seu comentário. Afinal você acabou de passar por Paris. Viu o que eu vi.Beijo.
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