Crônica de Natal

Mamãe Nete, papai Marcus

Ilustra: Régine Ferrandis Ilustra: Régine Ferrandis

Na infância sempre curtir o Natal, mas nunca acreditei em Papai Noel. Pois papai Marcus e mamãe Nete sempre deixaram claro serem eles que iam na loja comprar nossos presentes. Também costumavam declarar que a situação estava ruim, daí os presentes virem modestos. O que não significava que não fossem encantadores.

Na primeira infância amei cada presente que recebi. Em particular recordo de uma baratinha de lata (carro de corrida da época) e da miniatura de uma máquina de escrever.

A falta de crença no Papai Noel poupou a mim e a meus irmãos da desilusão de sua não existência. Nesse quesito agradeço aos meus pais. Se nos privaram de uma fantasia, também nos protegeram da consequente frustração.

É fato que os Natais dos anos 1950/1960 eram muito diferentes dos aturais. Não havia brinquedos em padarias, farmácias, bancas de jornal, lojinhas do metrô. Por sinal nem tinha metrô. A televisão, ainda incipiente, era tímida nos comerciais veiculados ao vivo. O foco publicitário estava mais nas mamães do que nos filhos.

Mesmo a figura do Papai Noel sinalizava estranheza. Idoso envolto em roupa de inverno no escaldante verão brasileiro. Associado à neve que ao menos 95% das crianças nunca viram. Nunca ouviram o crek crek quando se pisa nela.

O bom velhinho montado num trenó puxado por alegres renas que até para a garotada rural – acostumada à companhia de muitos bichos – soavam exóticas. Figuras de decalque, como se dizia então.

Com o passar das décadas, o aumento vertiginoso da população e a explosão das mídias de massa, o mercado entendeu o marketing e potencializou a personagem. O idoso gordinho e simpático virou garoto-propaganda de marcas famosas, bebedor de refrigerantes, babá de bonecas caras e porteiro de shopping centers.

A Wikipédia anota que a invenção do Papai Noel se inspirou no arcebispo de Mira na Turquia, o São Nicolau. Ele gostava de ajudar anonimamente quem estivesse em dificuldades. Levava nas costas um saco de moedas e as distribuía às escondidas.

sua indumentária ganhou definição quando a Coca-Cola lançou um comercial com o velhinho vestido de vermelho. Cor que não é só do PT, mas também do planetário xarope gelado.

São histórias que talvez apontem a não permanência no futuro do Papai Noel. Basta que uma nova geração de papais e mamães resolva não evocá-lo. Mas tudo isso tem pouco a ver com o Natal.

Pois na substância e sem adjetivações a data comemora o nascimento de um cara de bom coração. Portanto desejo a todos, crentes e céticos, um Feliz Natal!

Brinde: Vídeo Canção de Natal do Ismael Silva

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2 respostas para “Crônica de Natal”

  1. Linda, como tudo que você escreve!!!

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