Esta memória não é minha. É do meu pai. Aí vai o ano: 1942. O mundo em plena Segunda Guerra. Meu pai, com 12 anos, vai até a praça Seans Peña – meca carioca das salas de cinema. Entra no boteco do seu Joaquim, mesinhas ovais com tampo de mármore e cadeiras de madeira.
O português pergunta se o garoto quer experimentar uma novidade: Xarope dos norte-americanos, acabou de chegar da fábrica de São Cristovão. Sem titubear meu pai faz sim com a cabeça. Seu Joaquim põe sobre a mesa uma garrafinha sinuosa com um líquido escuro e frio dentro.
– Cadê o copo?
– Essa é para beber no gargalo mesmo.
O que mais impressionou papai foram as borbulhas, a espuma gasosa que saltou goela adentro. Ele não conseguiu definir o sabor daquela invenção. A única imagem que lhe ocorreu foi a de grãos de areia raspando a garganta.
Mas o resumo é que ele gostou. Nesse mesmo dia, chamou os coleguinhas do Colégio Militar para provar a Coca-Cola. Tal foi a sofreguidão dos bebedores, que um deles arrotou.
– Olha a educação, advertiu o português.
Depois daqueles goles iniciais acabou o III Reich, jogaram a bomba em Hiroshima, vieram a Guerra Fria, o neoliberalismo, o 11 de Setembro, o fundamentalista Bush, a guerra do Iraque, Barack Obama. Mas a Coca-Cola, em garrafa plástica de 2 litros, segue na geladeira de mamãe.
Olá,
Voltei… E, olha que bebida bem marota…Rs. Tim-tim…
[…] meus pais, além de assistirem a um mar de filmes americanos, passearam, namoraram, beberam a novidadeira coca-cola no Café e Bar […]
[…] antes dos 40 anos, mãe de três filhos, o mais velho meu pai, vovó Affonsina abriu uma pastelaria no subsolo da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Foi lá […]
[…] primeira vez que ouvi falar da bomba de Hiroshima foi pela boca do meu pai – um cara que a amava a história. Em 6 de agosto de 1945, ele tinha 15 anos incompletos. O […]
[…] bamba. Mamãe quase me teve dentro do elevador do hospital, segundo relato de papai – que excelente contador de histórias era um exagerador. Ainda segundo ele, uma enfermeira afirmou: Em noites de lua cheia as crianças […]
[…] Já sua indumentária ganhou definição quando a Coca-Cola lançou um comercial com o velhinho vestido de vermelho. Cor que não é só do PT, mas também do planetário xarope gelado. […]