Deu no diário espanhol El País de 4 outubro: na Inglaterra, cerca de 80% das salas de aula passaram a usar a lousa digital interativa. O quadro-negro – presente no mundo desde o século XVIII – bate em retirada.
E daí? Objetos desaparecem. A navalha cedeu ao barbeador de gilete, o de gilete ao elétrico; o telefone fixo ao sem fio, o sem fio ao celular.
Assim caminha a humanidade. Mas os objetos evocam emoções. O quadro-negro, ou lousa, confundiu-se com o processo de escolarização. Saltou de placa de ardósia a símbolo da sala de aula.
Também símbolo da ribalta. No meu Grupo Primário, havia um tablado, onde ficavam a professora e o quadro-negro. Quando um aluno era chamado à lousa, uma faísca de expectativa temerosa transpassava os pulmões.
Era uma espécie de tribunal: ou o réu sabia escrever a quilométrica inconstituicionalissimamente ou não; conseguia dividir 55 por 12 ou não. Seguiam-se marcas de júbilo ou de humilhação.
Espantosa solidão. O pequeno ser diante da lousa imensa. Lembro-me de um episódio. Intimada ao quadro, peguei o giz e representei o número 7. Ao contrário.
A turma inteira riu. A professora apontou-me o dedo e proferiu onze letras matadoras: menina burra!
Professores marcam para o bem ou para o mal.Ainda bem que vivemos tempos mais democráticos, pelo menos na sala de aula.
Abraços