Apesar do IBGE nunca ter recenseado há milhares de escritores e escritoras redigindo romances, contos, crônicas e poemas. Sem esquecer dos que escrevem para o teatro, TV, cinema, internet. Um ou outro escritor fez fortuna com a literatura. Exemplos no Brasil: Jorge Amado, o do Quincas Berro D’água, e Paulo Coelho, o do Diário de um Mago.
A escocesa J.K. Rowling, autora da série de livros Harry Potter, pode ter quantas casas de campo quiser. Outros conseguem, depois de uma vida dedicada à literatura, viver modestamente dos direitos autorais. Já um número enorme de escritores escreve depois do expediente do banco, da repartição, da escola. Agarram as palavras nos feriados, sábados e domingos.
Tanto o saudoso português José Saramago quanto a saudosa belga Marguerite Yourcenar disseram que a idade madura é a mais adequada para publicar. O Prêmio Nobel do ano de 1998, autor do impagável Memorial do Convento, despontou para a fama quase sessentão.
Yourcenar deixou as anotações para o seu famoso Memórias de Adriano dormirem anos a fio em uma maleta. Mas não é uma regra! O “enfant terrible” Arthur Rimbaud, aos dezessete anos, escreveu um conjunto de poemas que fariam história.
Em literatura, os documentos são o talento e o esforço. Um não vive sem o outro. Só o talento não basta. Apenas o esforço não é o suficiente. A sábia frase, de autoria incerta, Escrever é dez por cento inspiração e noventa por cento transpiração soa perfeita para traduzir esse ofício muito antigo e sempre renovado.
Adélia Prado, poeta mineira, escreve em qualquer canto da casa. Ela diz que o seu escritório é a vida. Em entrevista para o livro O Lugar do Escritor, de Eder Choidetto, a autora de Bagagem confessa: Se montasse um escritório, ficaria pateta lá dentro, não teria o que fazer. O movimento do cotidiano é o mais importante.
Já o criador de Viva o Povo Brasileiro, João Ubaldo, dizia precisar de seu escritório para se concentrar. Era a maior bagunça, mas ele sabia onde encontrar um grampo de papel e declara: Eu moro aqui.
Os horários também são variados. Há os notívagos como Paulo Lins, autor de Cidade de Deus, que escreve invariavelmente pelas madrugadas. Os matutinos como foi o colombiano Gabriel García Márquez, inventor do fabuloso Cem Anos de Solidão.
Há também os organizados: pessoas que estabelecem até o número de palavras a serem escritas diariamente. Outros, como o poeta Ferreira Gullar, famoso pelo seu Poema Sujo, põe palavras no papel quando dá veneta: Escrever é um troço bravo.
Certa feita, o jornal francês Libération entrevistou centenas de escritores do mundo inteiro, com a seguinte pergunta: Por que você escreve? Para essa questão aparentemente simples foram dadas respostas de todos os matizes. Um caleidoscópio de razões e desrazões.
Houve desde rotundos não sei até justificativas políticas, ideológicas, religiosas. Os mais dramáticos afirmaram escrevo para não morrer. Os generosos disseram escrever para o eleitorado. Os egoístas, para si mesmos.
Independentemente da resposta, a escrita criativa tem parte com o mistério. Clarice Lispector, que nos deu A Paixão Segundo GH, em uma entrevista à escritora María Esther Gillio, sussurrou: Para mim escrever é uma maneira de entender. Escrevendo, compreendo. Ao escrever me dou conta, muitas vezes, de coisas que eu não sabia que sabia.
Ligia Fagundes Telles, autora do já clássico As Meninas, verbalizou: Estou descabelada. A criação literária descabela. Para o ato de escrever, talvez haja sim uma receita: Comece, continue, pare quando terminar.
Texto muito bom de ler instrutivo e saboroso,lembrou Ofício de Escrever de Ramón Nieto.
Puxa, não conheço o Ramón Nieto. Fiqui curiosa. Obrigada pela leitura, Helena. Beijo.
[…] quando as palavras ouvidas precisam materializarem-se no papel. Neste momento, entra em cena o ofício e a arte do […]