Tenho um sonho recorrente: olho no espelho e vejo meu rosto transformado em pedra. Toco-o e sinto a aspereza mineral. Um rosto duro sulcado por rugas eternizadas. Daí vem o pânico. Suo frio, como se chovesse na pedra. O coração acelera querendo fugir pela boca, quase esparramando-se pelo chão frio do banheiro. Então me acalmo contagiada pelo mutismo das pedras. Reflito sobre meu novo rosto. As pessoas vão ter que se acostumar. É claro que será mais difícil para os que me amam: Coitadinha dela. E bem mais fácil para aqueles que já não iam com a minha cara: Ela não tem cara de pau. Tem cara de cimento mesmo. Com o novo rosto fico triste. Tudo bem, as pedras são tristes. Nunca ouvi ninguém dizer: Olha que pedra alegre! Acho que é pelo fato delas não se movimentarem. Mesmo que seja no ritmo de tartarugas – que aliás lembram pedras. Mas com essa cara vou descobrindo coisas. Percebo que o maior medo não é o dedo dos estranhos me apontando na rua: Lá vai a mulher cara de pedra! Não. O meu temor é que esse novo leiaute atrapalhe a minha escrita. Tenho pavor de perder a compaixão. Sem ela, o texto não vale tinta. Uma escritora sem compaixão é nota de 15 reais.
O medo
Tenho um sonho recorrente: olho no espelho e vejo meu rosto transformado em pedra. Toco-o e sinto a aspereza mineral. Um rosto duro sulcado por rugas…
O povo do design fala muito em empatia. Não tem como fazer um produto ou serviço q sirva de algo pro usuário sem empatia. Então, talvez os designers tenham sonhos parecidos.
É isso mesmo. Mas compaixão é maior que empatia. Pois, no fundo, a gente tem empatia quando se identifica. Já posso ter compaixão por alguém que não tem nada a ver comigo. Compaixão é “com paixão”. Beijos.