Fernando Santa Cruz (1949-1974)
Enquanto foliões cariocas pulavam nas ruas a alegria do carnaval de 1974, reciclando homens vestidos de mulheres, pierrôs e colombinas, dois jovens – Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira e Eduardo Collier Filho –eram presos por agentes do DOI-CODI do Rio de Janeiro. O fato ocorreu em Copacabana, onde Fernando e Eduardo haviam marcado um encontro.
Os dois eram militantes da APML – Ação Popular Marxista Leninista. Essa era uma entre as várias micro-organizações que tentavam enfrentar a ditadura militar, instaurada 10 antes daquele carnaval de 1974.
Se atrás de uma bola vem sempre uma mãe, atrás de um filho preso também. Foi assim que Elzita, mãe de Fernando, e Risoleta, mãe de Eduardo deram início à épica procura por seus filhos.
As duas tentaram de tudo. Falaram com carcereiros, bispos, militares. Estiveram frente a frente com o general Golbery do Couto e Silva – todo poderoso chefe do Gabinete Civil da Presidência da República.
O general as ouviu em silêncio e em silêncio permaneceu. Informações posteriores comprovariam que Fernando e Eduardo tinham sido mortos sob torturas. De maneira bem frequente naqueles anos, seus corpos desapareceram.
Em entrevista à jornalista Patrícia Negrão, no livro Brasileiras Guerreiras da Paz, publicado em 2006, Elzita Santa Cruz Oliveira diz: Depois que perdi a esperança de encontrar Fernando, só me restou falar, para que um fato tão triste não caísse no esquecimento.
Antes da prisão do filho, Elzita já havia vivido o sufoco da prisão da filha. Por Rosalina Santa Cruz, ela também bateu portas de quartéis. Desafiou o arbítrio e o totalitarismo dos homens de farda: Eu sentia medo. Mas por um filho, vou até para dentro do fogo.
A mãe acabou reencontrando a filha, solta um ano depois de presa. Mas com Fernando a história seria mais triste. Sem pistas, sem corpo. Apenas matéria incendiando a memória.
Fernando, nascido no Recife, foi preso a primeira vez ao participar de uma manifestação estudantil contra os acordos MEC-Usaid. Refrescando os fatos: esse acordo era pura subserviência aos Estados Unidos. Foi aí que Filosofia e Latim foram retiradas da grade do ensino fundamental.
Por ser menor de idade, Fernando permaneceu pouco tempo detido. Mas em 1974, o carnaval foi outro. Havia ordens de desmantelar o maior número possível de organizações opositoras à ditadura. Ordem de torturar e matar os militantes.
E, hoje sabemos, desaparecer com seus corpos. Como se nunca nada tivesse acontecido. Como se fosse super natural matar Fernando, deixando o filho Felipe, então com dois anos, órfão.
Até este ano da graça de 2017, famílias inteiras seguem esperando por respostas. Nenhuma delas alimenta a ilusão de encontrar pais, filhos, irmãos vivos. O que querem é o direito básico à verdade. Não só isso. Querem também divulgar como essas pessoas morreram e quem foram seus assassinos.
Brinde