– Estou vendo alguns índios.
– Pois eu avisto riquezas fartas.
– Vou acenar!
– Temos espelhinhos pra presentear.
– Vou fotografar e pôr no Facebook.
– Será que é perigoso chegar sem mais nem menos?
– Não. A praia é pública.
– Ouvi dizer que os índios comem carne humana.
– É mito! Basta dar uns espelhinhos.
– Isso é verdade. Todo mundo gosta de se olhar.
– Será que eles usam smartphones?
– Provavelmente.
– Então não vão achar graça em espelhinhos.
– Tem razão, precisamos pensar em outra coisa.
– …
– Sobrou feijão?
– Sobrou.
– Eu li que o feijão está caríssimo por essas praias.
– Vamos dar feijão para eles!
– Puxa, lembrei da minha mãe.
– Por quê?
– Ela sempre diz que pra tudo tem um jeito.
– Vamos batizar essa praia de Jeito.
– Hum. Que tal Jeitinho? É mais redondinho.
– Então vamos?
– É pra já!
Lá na praia
– Estou vendo alguns índios. – Pois eu avisto riquezas fartas. – Vou acenar! – Temos espelhinhos pra presentear. – Vou fotografar e pôr no Facebook….
[…] Mas os indígenas, apesar das perseguições e maus-tratos, mantiveram as suas línguas e seus modos de viver. O que é no mínimo espantoso! Os poucos que sobraram de muitos ainda celebram relações próprias com o meio ambiente, com a arte, com o sentido de desenvolvimento. No fundo, nunca existiu diálogo entre nossas culturas. O que existiu e segue vigendo é colonização e dominação. […]