Imagine uma praça cercada de salas de cinema por todos os lados. Uma ilha de acetato e grandes ilusões. Assim foi nos 1940/50 a praça Saens Peña situada no coração da Tijuca, Rio de Janeiro. Quando jovenzinhos meus pais, além de assistirem a um mar de filmes americanos nessa hollywood tijucana, também passearam, namoraram, beberam a novidadeira coca-cola no Café e Bar Éden.
Todo o frenesi da juventude tijucana girava em torno dos cines Carioca, América, Metro, Olinda e o poeirinha Tijuquinha. A moda vinha das telas, como hoje vem da internet. Os rapazes aprenderam a fumar com os galãs das películas. As moças a passarem batom como faziam as estrelas da América.
Mas não apenas isso. Os filmes também fizeram sonhar e desejar. Ensinaram uma coisa ou outra, do jeitinho que ensinam até hoje. Então eu cresci escutando papai e mamãe contando histórias que haviam vivido entre os cinemas da praça Saens Peña.
Eles não contaram, mas imaginei beijos e carícias trocados no escurinho. Planos de vida sussurrados. O dia que terminaram tudo na saída do Olinda e as pazes feitas no hall do Carioca. Viveram sim um romance de écran.
Ifluência ou não, quando na faculdade, escolhi estudar cinema. Foi excelente. Vi centenas de clássicos, filmes de vanguarda, bons brasileiros, experimentais, marginais. Mas não me tornei cineasta. A caneta, e não a câmera, fisgou todo o meu interesse.
Colocando as coisas em perspectiva, percebo o quanto ter estudado cinema me ajuda na vida de escritora. Por exemplo, dar ênfase ao que se mostra, mais do que ao discurso. Pensar nos parágrafos como cenas de filme. Procurar obsessivamente o movimento.
De forma fundamental, os filmes me demonstraram o valor do corte e da edição. Suprimir o irrelevante. Editar o texto à moda de sequências fílmicas. Procurar a economia que dá na síntese.
Fico pensando que meu processo foi às avessas. Pois a literatura é bem mais velha do que o cinema. Homero nasceu 10 mil antes do Glauber Rocha. No fundo cabe a cada um descobrir qual lanterna iluminará melhor o seu caminho.
[…] arte de escrever. A literatura russa do século 19 inspirou a do século 20, com igual força que Hollywood influenciou o cinema do mundo […]
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