A partir de matéria da Folha de S.Paulo, 12/12/2016
Quando eu cheguei em São Paulo, no longínquo 1972, arregalei os olhos para uma cidade muito diferente do meu Rio. Com o coração apertado de nostalgia e a boca seca de ansiedades, procurava por referências. Minha família havia mudado para os Campos Elísios, bairro vizinho ao Centro e à Barra Funda.
Foi explorando as redondezas que dei de cara com o castelinho na rua Apa, esquina com a ainda importante São João. Avenida imortalizada no samba Ronda de Paulo Vanzolini: E neste dia, então, vai dar na primeira edição: cena de sangue num bar da Avenida São João. Ela também aparece em Iracema do imortal Adoniran Barbosa: Iracema, você atravessou a São João. Veio um carro, te pega e te pincha no chão.
Castelos são símbolos de monarquia, aristocracia, poder e queda. Soam à valsa e cheiram à champanhe. Esse da rua Apa tinha a pátina da decadência. Paredes descascadas, musgo nas torres, ninguém morando. Era construção única sitiada por prédios plebeus. Foi meu pai – que tudo sabia – que me contou que naquele castelinho houve um crime familiar que chocou a cidade.
Assassinatos em família são marcantes. Dentro de um castelo, então, ganham ares fantasmagóricos. Por muito tempo, me arrepiei ao passar em frente ao maldito da rua Apa, esquina com a dramática São João que – no mesmo ano da minha chegada- teve um dos seus prédios, o edifício Andraus, incendiado, matando 16 pessoas e ferindo mais de 300.
Depois passei décadas sem me recordar do Castelinho com sua história bizarra. Até ler na Folha de S.Paulo que a construção foi reformada e será aberta ao público em fevereiro de 2017.
Na matéria tem a informação do crime no Castelinho: Na noite de 12 de maio de 1937, depois de uma discussão por causa dos negócios da família, o empresário Álvaro César dos Reis, então com 45 anos, foi encontrado morto ao lado do irmão Armando, 42, e da mãe, Maria Cândida, 73. À época, considerado um playboy, Álvaro foi apontado como autor dos crimes que logo depois se suicidou.
O que me leva a pensar que o sangue azul, do mesmo jeito que o vermelho, ao ferver pode desaguar em tragédias. Somos muito mais parecidos do que gostaríamos de acreditar.
Mais do Castelinho
Minha querida Fernanda, gostei sua bizarra histora da rua Sao Joao. Nos temos historias asim mais o que eu gosto é seu stilo ligero, suave e actual de contar as coisas ainda as bizarras,e ainda voce asomase voce se situa em terceira pessoa. Um forte abraco para voce e outro para Marcia. Minhasb queridas amigas
Carinhos,
Kelva
Kelva, minha querida. Obrigada pelo comentário.
Um feliz 2017 para você!
Foi bom .
Foi bom sim. Uma vida.
Gostei de saber o que houve com o castelinho. Gostei de mais pessoas gostam das histórias das cidades. Entretanto,o que fizeram no castelo foi uma reforma e não restauração. Acompanhei, fiquei chateada ao ver que não era restauração, mas, será utilizado e deixará de ser um cortiço.
Lorena, obrigada pela informação. Já corrigi no texto. Valeu, abraço.
Gostei bastante,chamou pelo curiosidade do crime,mas passado o suspense ficou o gosto do texto agíl?, ou direto ou leve, que cupre seu objetivo.Obrigado.
Que legal seu comentário. Um abraço, Helena.