Vez ou outra encontro no Facebook textos da Eliana Medeiros. Ela os posta sem ilustração, nem estardalhaço. Quando leio, me surpreendo com o que narraram e pelo bem escritos que são. Daí fiz o convite para ela enviar um texto para a coluna Convidados. Para nossa sorte ela aceitou
Nelvosa
por Eliana Medeiros
Dentista afamado pela competência, ele tinha equipamentos de última geração em seu consultório. Não faltavam broca, serra, boticão. Tudo brilhando e perfeitamente higienizado.
A empregada que fora abandonada com um menino e uma menina pelo marido tinha sido incorporada à família do doutor, que trabalhava na própria casa.
O filho da doméstica, com a energia dos desmiolados e desocupados, se assemelhava a um demônio mirim capaz de capetices que deixavam sua mãe desoladamente furiosa.
Um dia, na oficina endiabrada da sua cabeça, inventou de pegar todos os instrumentos do patrão da mãe e vender para o primeiro que lhe oferecesse uns caraminguás. Passou pouco tempo para que seu crime fosse descoberto.
O dentista, com a cabeça bem à frente do seu tempo e diante da mãe do fedelho pronta a espancá-lo, decretou: Na minha casa não se bate em criança.
O que poderia então a mãe fazer para ajuizar aquele moleque que lhe provocava mais desgostos que os fios de cabelo que tinha na cabeça? Estava certa de que a linguagem da palmatória seria a mais certeira. Mas fazer o quê se aquele doutor a quem tanto devia vedara o precioso recurso?
Pensou que pensou. Sua cabeça fervilhava ideias sem encontrar nenhuma que a apetecesse. Até que a solução redentora pipocou dos seus miolos.
Quando o dentista chegou em casa, encontrou a filha mais velha aos prantos, enquanto a empregada, em sua prolixa dislalia, a afastava dizendo:
Dilcinha, me deixe. Eu tô nelvosa.
Mas como a menina poderia sossegar se o castigo do menino acabara sendo dela? A empregada, em sua fúria justiceira, pusera no garoto o vestido recém-comprado e sem uso da filha do patrão e o fizera sentar assim paramentado na frente da casa, para quem quisesse ver.
A estas alturas, o menino nem mais vivo deve ser. Mas a história contada e recontada virou argumento das filhas da menina. Sempre que queriam se livrar de um discurso indesejável, diziam seriamente a brincar: Mãe, me deixe. Eu tô nelvosa. Era o suficiente pra tudo acabar em risos.
Ainda bem que alguém enxergou o talento que essa menina sufoca dentro de si. Uma baita escritora, você, Eliana Medeiros. O texto de hoje? Nem precisa elplicar né, rs? Quem se entrega a ele, te compreende pacas! Parabéns! Sabia que ia chegar aqui. E esse com certeza é só o começo. Acredite! Obrigada por enviar, querida!
Muito espirituoso o texto. Adorei
Também curto muito os textos da Eliana Medeiros de quem tenho o prazer de desfrutar alguns encontros pessoais ainda que bem esporádicos.
Adoro escutar as coisas que conta e como as conta!
Parabéns à Fernanda Pompeu por ter aberto este espaço e dar oportunidade para outras pessoas também mergulharem no olhar diferenciado da Eliana!
Conheço Eliana desde meus tenros 13 anos de idade. Que bom que ela topou enviar um de seus deliciosos textos. Ela sempre escreveu magnificamente. E só melhora! Também foi e continua sendo meu oráculo para as dúvidas sobre a nossa língua. Além disso é uma pessoa maravilhosa, com grande senso de humor e um coração maior que ela! Enfim, sou tiete de coração! Parabéns Li querida!!! Obrigada Fernanda.
Talento e competência transbordantes. Parabéns!
Eu conheci a Eliana, trabalhando na Linea Gráfica, eu fazia estágio no Depto. de Arte mas sempre que podia dava as escapadelas que me eram permitidas , prá sala dela. Ali eu estava aprendendo, pouco me importava se era o mais necessário no momento de estágio, ali estava o aprendizado mais importante prá minha vida. A Eliana é uma pessoa de um tremendo bom senso, que resumidamente é o melhor para qualquer profissional, pq o bom senso, no mínimo, te faz parar prá pensar. E por falar em pensar, pensamos que maravilha seriam, os políticos com bom senso, profissionais da área de saúde com bom senso, jornalistas com bom senso,…. semeamos o bom senso. Parabéns Eliana vc é raridade.
Conheço Eliana há algum tempo, quando entrei para a família, me casando com seu primo Frank. Já tive a oportunidade de dizer a ela, o quanto admiro seus textos e a maneira sutil, forte e até sofisticada com que os escreve. Não por acaso, identifico suas histórias, sem que ela cite sequer, um nome.
Eliana, estamos aguardando anciosos, a noite de autógrafos de seu primeiro livro, com suas histórias deliciosas.
Beijos
Gosto muito dos textos da Eliana Medeiros, parabéns eles são uma delícia de ler!
[…] ainda. Lá pela quarta postagem, pensei: Opa, temos aqui uma escritora. Daí a chamei para a coluna Convidados do Fernanda Pompeu Digital. Como a Eliana Medeiros não tem blog (ainda) fico aguardando seus […]