Nunca esqueci da minha supresa ao saber que varejo vem da palavra vara. Ou seja, os primeiros mercadores carregavam os produtos em uma vara apoiada nos ombros. Até hoje nas areias de Copacabana ou da Praia Grande é possível ver homens e mulheres carregando cangas, pendrives e bonés em varas, ou expondo-os em varais. Isso me faz pensar que tudo muda, até radicalmente, mas a essência está na origem.
Outro significado curioso é Museu, literalmente o Templo da Musas – essas que inspiravam poetas e artistas. Sei que hoje a gente sorri, com superioridade, para a ideia de musas inspiradoras – que na mitologia eram 9 deusas. Mas a verdade é que, às vezes, tudo o que precisamos é de uma musa ou santo que nos guiem no escuro. Hoje a musa que mora nos museus é a tecnologia que se esforça por conectar visitantes e obras.
Mais uma surpresa é a cortina veneziana – feita de lâminas de madeira ou metal – que formam frestas para a gente enxergar de dentro sem que os de fora nos vejam. Segundo o Dicionário Etimológico digital: A cortina foi inventada pelos maridos ciumentos de Veneza para evitar que suas mulheres pudessem ser vistas da rua, sem impedi-las de ver a banda passar.
Da bela Veneza – serpenteada por canais – também vem a palavra Gazeta – sinônimo de jornal. Daí até hoje Gazeta Mercantil, Gazeta do Povo, Gazeta da Manhã, Gazeta Eletrônica etc. Pois a história: no século 16 gazzetta era uma moeda veneziana de pequeno valor. Era quanto custava a leitura de notícias copiadas em uma folha. Uma gazzeta para se informar. Daí o nome contaminou o veículo.
Aqui no Brasil também temos origens divertidas. A palavra bonde é uma delas. Quando esse transporte surgiu no Rio de Janeiro, então capital federal, foram emitidos cupons como passes para subir no Carril de Ferro. O povo chamou esses cupons de bonds, por aproximação a bônus. Aí a coisa pegou e o comprido Carril de Ferro virou o simpático Bonde.
Muitas dessas etimologias são difíceis de provar. Há controvérsias entre estudiosos. Isso ocorre, em parte, por que o Brasil obcecado pelo futuro não gosta muito de olhar para trás. Não há suficientes livros sobre o assunto. O que é uma pena. Pois saber de onde as coisas vêm ajuda a imaginar para onde elas vão.
Tenho um Houaiss de papel, deve pesar alguns quilos.
Lá tem etimologia toda cifrada, mas tem.
É a primeira edição, de 2001, custou uma fortuna. E está desatualizado por causa da insanidade das reformetas ortográficas.
Isso mesmo: grande Houaiss. Trabalhou a vida inteira pela língua portuguesa. Boa dica, Beto.
Quando esse livro foi publicado, o Antonio Houaiss já tinha morrido, acho que um pouco antes. Mas tinha uma equipe enorme cuidando da nossa língua e das histórias das nossas palavras.
Não com tanta graça quanto em seu texto, Fernanda, mas com precisão que me dá segurança…
Verdade, Beto, existem dicionários e livros que cuidam da etimologia. Estes últimos escritos muito amorosamente. Talvez os leitores é que não sejam suficientes. Beijo.
Muito interessante! Gazeta è um sobrenome comum na cidade de Echaporã,SP.
Abraços
Beijo, Silvana.
De novo: obrigada. Pelas informações, pela leveza. Gostei muito.
Bom dia, Cristina. Gostoso escrever para leitoras como você. Beijo.