Muro é palavra curta e dura. Presente em várias expressões: ergueu-se um muro entre nós, de repente dei de cara com um muro, bati com o nariz no muro. Isso sem falar dos muros da história. Teve o muro de Berlin. Agora tem o muro em Gaza, o muro em Lima, o muro algures. Também tem o muro do Ronald, perdão, Donald Trump, cuja promessa ajudou-o a ganhar as eleições. Cuja ideia ofende os mexicanos. De ergue muro, derruba muro a história está cheia. Tem também o muro do qual gostamos. Aquele que não deixa as galinhas do vizinho ciscarem no nosso jardim. Também o que permite que a gente durma com a sensação de proteção. É, os muros fazem parte da longa caminhada da humanidade. Mas há um outro tipo de muro – que não é feito de cimento, argamassa, concreto. Um muro líquido, se é que você me entende. Eu já encontrei muitos muros líquidos na minha frente. O mais alto deles é o medo. Sempre que o sinto, tremo. Quando tive a certeza que meu pai estava morrendo, experimentei um baita muro feito de medo. Ele ficou na minha frente por dois meses. Aí quando papai morreu, o muro caiu. Plof! Foi ao chão. Saiu o medo, entrou a dor. A dor não é um muro. É de outra natureza. Com a dor, a gente trabalha, negocia. Com o muro não tem conversa. Ele está lá empedernido, cortando o fluxo de qualquer comunicação. Acho que por conta disso, na minha casa, o muro que dá para a rua é vazado. É uma tentativa de tornar o muro menos muro. Já o muro que separa a minha casa da casa da vizinha é sólido, sem arestas. Talvez por conta disso tenha o decalque de uma borboleta. Ela parece me dizer: Olhe para mim, eu posso voar. Este muro não me intimida. Ah, borboletas!
Borboleta no muro
A imagem deu no texto
Fernanda você se supera a cada texto. Simplesmente lindo!
Obrigada, Cristina. Um grande domingo pra nós. Beijos.
Quantos sentidos, quantas possibilidades, quantas metaforas para os muros, Fernanda!
A frente da minha casa não tem muro, mas nem por isso sou destemida. Nem tudo é o que parece.
Bom domingo!
Você me parece destemida, querida Marisa. Mas, é vero, nem tudo é o que parece. Bom domingo!
Muros e borboletas…adorei, Fe!! Beijos.
Cida, querida. Ontem, domingo, passei em frente a sua casa. Puxa. Apertou a saudade. Beijo grande.
Bonito texto!
Obrigada, Silvana. Beijo.