A partir de entrevista no Valor, 22-7-2016
O nome dela é Eliana Cardoso. Tem 72 anos e uma bem sucedida carreira como economista, professora, colunista de jornal. Ela é dessas mulheres em que a sorte abriu muitas portas e a competência, outras mais. Nos últimos anos, Eliana decidiu virar o barquinho para novo porto. Focou na escrita literária.
Na entrevista dada à jornalista Cristiane Barbieri, no excelente À Mesa com Valor, surge uma mulher assumida e nada resumida. Fala com sinceridade de seus casamentos, da dor de ter sido abandonada pelo então marido – o economista Rudi Dornbusch (1942-2002): Uma noite ele me contou que tinha outra mulher e foi embora no dia seguinte.
Eliana Cardoso fala do luto da separação e dos procedimentos da superação. Aí não sei se é impressão minha, mas até hoje vi poucos grandes economistas homens narrando com sinceridade seus desastres efetivos. Questão de gênero?
Mas o melhor da entrevista é conhecer a virada do jogo. A economista que aposentou as planilhas para escrever ficção. Ela acaba de lançar o romance Nuvem Negra, no qual conta as peripécias de um engenheiro atrás de grandes respostas. No próprio jornal Valor, ela começou escrevendo sobre economia e mudou para assuntos da cultura. De certa maneira, saiu da parte para o todo. Pois uma coluna sobre cultura abrange do futebol ao soneto, passando pela economia.
O que mais me chamou a atenção? A aposta de Eliana Cardoso na literatura. Escrever ficção é sonho acalentado por muita gente, em todas épocas, em todos cantos do mundo. Sonho de homens e de mulheres. Também é um dos mais difíceis de virar realidade. Porque ao contrário da economia, ninguém precisa da literatura. Quero dizer, ninguém morre por não tê-la.
Minha teoria é que a literatura está no reino do prazer. É satisfação para quem escreve e para quem lê. Escritores – e escritoras em particular – são a reencarnação do Quixote lutando por utopias. Pagar contas com palavras não é para qualquer um. E mesmo aqueles que têm como pagar suas contas, precisam da coragem do entusiasmo para tramar o mundo em palavras. A recompensa pelo esforço é Eliana quem conta: Agora estou fazendo o que gosto e não importa mais quão boa eu sou, nem se vou ser reconhecida ou não.