A partir de matéria da Folha de S.Paulo, 20/5/2016
José Catalão, garçom do Palácio do Planalto, foi um dos primeiros desempregados da gestão Michel Temer. Servindo chás, cafés e licores – desde o governo Lula, passando pelo da Dilma – é o tipo de funcionário que sabe muito. O pessoal da cozinha, dos elevadores, da limpeza não têm direito à voz, mas têm ouvidos.
O fato é que a equipe do novo governo achou melhor tirar o Zé Catalão do Palácio. Temiam que, além de garçom, ele se tornasse pombo-correio levando informações para outro Palácio, o da Alvorada, onde se concentram os correligionários da presidente afastada.
São esses momentos em que a vida imita as fábulas. Destrona-se o rei, elimina-se os trabalhadores domésticos. Como o garçom não era concursado, nem tinha moeda para trocar nada, seu destino foi a demissão. A matéria da Folha de S.Paulo anota que o salário de Catalão era de 3.870 reais.
A notícia me chamou a atenção porque, fora dos restaurantes, raramente penso nos garçons. Ainda mais nos garçons do Poder. Desde que li a matéria não consigo esquecer do José, parecido com o do Drummond: Quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou. E agora, José? Será que ele vai arranjar emprego na sua profissão em Brasília?
Sei que ele tem 52 anos e imagino que não more no Plano Piloto. Imagino várias outras coisas, inclusive a tristeza dele. Mas talvez ele seja mais realista do que eu. Do tipo que diz água de rio sempre corre para o mar. Talvez ele soubesse que sua presença em um palácio só podia mesmo ser fugidia.
Publicado originalmente no Nota de Rodapé