A primeira vez que tive consciência de um passado consistente foi no dia seguinte ao meu aniversário de 10 anos. A revelação se deu dentro do lotação Usina-Muda, na Tijuca carioca. Enquanto o ônibus corria pela rua Conde de Bonfim, eu não parava de me espantar com a incrível marca de uma década de vida.
Eu já tinha elementos para preencher uma lista gorda, dividida em duas colunas. À esquerda os bons acontecimentos, à direita as coisas chatas. Minha escola figurava no topo da chatice, pois ela me pressionava a fazer tudo certo. Na verdura dos 10 anos, intuía que o erro era metade de todas as coisas.
Mas, nesse então, a relevância do erro era apenas sensação e um bocado de solidão. Passariam décadas para que a intuição de que o erro ensina mais do que o acerto se tornasse conhecimento consolidado.
Dois escritores me ajudaram nisso. Oswald de Andrade quando festejou a contribuição milionária de todos os erros no seu Manifesto da Poesia Pau-Brasil, e o múltiplo Paulo Leminski ao escrever: Herrar é umano.
Cientistas e gente da Tecnologia da Informação também me auxiliaram demonstrando que a maior parte de seus experimentos dão errado antes de dar certo. Quanta paciência e persistência para acertar na mosca – o ponto negro no centro do alvo.
Isso sem mencionar o que nunca acertamos. Se existe erro que leva ao acerto, é claro que há erro que leva a outro erro. Ou seja, errar não é exatamente um método para chegar ao correto. O erro é bem mais uma parte indissociável da vida.
Seu contraveneno é ficar paradinho, é não tentar nada. Mas quem aguenta uma existência sem tentativas? Quantas vezes não se arriscar foi o maior dos erros? Hoje, com mais de 60 anos , afirmo que fugir do erro é impossível. As escolas deveriam insistir com as crianças que o verbo errar será conjugado – em os todos tempos, pessoas, modos – durante suas vidas.
O que tento é transformar o inevitável equívoco em oportunidade. Cometido o engano, feita a burrada, melhor começar de novo. Detectado o erro nos aproximamos do acerto. Verdade que podemos incorrer em um novo erro, mas ele também poderá ser corrigido.
Há empresas, como o Google, que ficaram trilhardárias arrumando erros quando eles já estavam no ar. Outras faliram no segundo erro. Para elas, como para nós, errar em si não garante nada. Mas tirar proveito do que não funcionou é toda a diferença. Ou será que estou errada?
O que dizes? Comente embaixo
Adorei
Comecei uma nova coluna no site sobre envelhecer: http://fernandapompeu.com.br/50-2/
Quem nunca errou?
A gente erra até quando tenta acertar, né? Beijo, Silvana.
[…] digamos que hoje sou uma aluna mais experiente, que já cometeu toda sorte de erros. Se equivocou infinitas vezes. Então eu agora tenho um Memorial de […]