Depois de décadas de caneta, hoje acredito que a matéria-prima da escrita não é a palavra. É a memória. Mesmo quando o escriba ambienta sua história no futuro – exemplo, no ano 2080 – ele trabalha com a memória. Só dá para imaginar novas formas de transporte lembrando das carroças, trens, caravelas, aviões.
As palavras são ferramentas. Precisas, sofisticadas, cognitivas. Como toda ferramenta, elas estão às ordens de quem resolver usá-las. Ser bom ou mau escritor dependerá da taxa de habilidade em combinar, contrapor, harmonizar, desagregar palavras e frases.
É certo que há outros elementos, além da palavra, na caixa de ferramentas do escriba. Muita leitura, gramática, dicionários, etimologia, filosofia. Todo conhecimento é bem-vindo. Vale observar a natureza humana quanto o caráter dos parafusos.
[…] Assim já morri de amores por uma fábrica de parafusos, pontes estaiadas, bolos para festas, estatuto da criança e do adolescente, autoescola, biblioteca comunitária, casa de tintas, clube de campo, direitos humanos. […]