Mulheres que deram nome a vilas e ruas famosas de Sampa
A escritora espanhola Elvira Lindo, em uma de suas crônicas publicadas no jornal El Pais, fez exaustiva lista de irmãos que entraram para a história. Entre eles, os irmãos Lumière, os Karamazov, os Marx, os Kennedy, os Rocco, os Cohen, os Jackson Five, os Mann, os Grimm, e, é claro, Caim e Abel.
Acrescento alguns brazucas à lista de Elvira. Começando pela contribuição consanguínea da música sertaneja: Tonico e Tinoco, Chitãozinho e Chororó, Leandro e Leonardo, Zé Camargo e Luciano, Sandy e Júnior. Temos também os irmãos Sarney, os Buarques de Holanda, os Marinhos, os Frias, os Mesquitas e, é claro, Pedro e Fernando Collor – versão tupiniquim de Caim e Abel.
Sampa fica bem na fita. Mesmo que muita gente não se dê conta, moramos, trabalhamos ou caminhamos sobre algumas irmãs. Irmãs que deram o nome a vilas. Como a Ida, Beatriz e Madalena. O pai delas, seu Gonçalo, imigrante português, fatiou imensa gleba e decidiu homenagear as filhotas.
Cada uma, mesmo depois de findas, ganharam coloridos de personalidade. Beatriz mantém o ar da origem campestre, pois é possível ouvir o galo cantar nos quintais e corujas piscar na praça Dolores Ibárruri, la pasionaria .
Ida, a mais séria, sedia a Paróquia Nossa Senhora Rainha da Paz, orgulhosamente construída pelos moradores. Diga-se como ilustração, as três vilas se formaram, na primeira metade do 20, pelas mãos de motorneiros, padeiros, sapateiros, pedreiros, costureiras, doceiras e funcionários públicos.
Madalena roubou a cena das irmãs. Fez isso com a ajuda da proximidade de Pinheiros, da especulação imobiliária, da estação de metrô, das dezenas de bares, restaurantes, ateliês e lojas charmosas. O pessoal do seu entorno diz apenas Vila e todo mundo sabe que é a Madá:
Lá na Vila. O metrô da Vila. A feira da Vila. A livraria da Vila.
Na região central da cidade, há o caso de três irmãs, não em sangue, mas em títulos de nobreza. Filhas de barões, duas viraram ruas e uma, avenida. Maria Antônia, Veridiana e Angélica são conhecidas por 92% dos paulistanos. Cada uma fez história na Pauliceia.
Dona Veridiana, a caridosa. Os que procuravam a Santa Casa da Misericórdia para se curar ou abandonar bebês na Roda dos Expostos passavam por ela. Dona Veridiana e a Santa Casa continuam lá, agora sem Roda dos Expostos, mas com muitos aflitos.
Maria Antônia se tornou referência histórica, quando em 1968, com a ditadura militar a pleno cassetete, eclodiu o conflito entre estudantes do Mackenzie e os da Faculdade de Filosofia da USP. O Mackenzie tinha grupos de direita e a Filosofia, é claro, abrigava gente de esquerda. A coisa esquentou com ovos, pedras, paus, coquetéis Molotov. Essa passagem ficou conhecida como A batalha da Maria Antônia.
Por fim, a mais importante delas, Angélica. Em um século, a avenida teve várias caras. Abrigou casarões de barões do café, prédios de apartamento com estilo. Entre eles, um de Oscar Niemeyer. Uma praça maravilhosa, a Buenos Aires. Hoje, a inquieta Angélica segue mudando com construções de duvidoso gosto e grana muito alta.
Brinde
Prefiro os Buarques de Hollanda, mas as irmãs Madá agradaram.
Eu também, Silvana!
Muito bom!
Oi, Cristina! Beijo.