Sampa – Montreal

Marilda & Eu é uma seção experimental do Fernanda Pompeu Digital. A proposta veio da Marilda Carvalho – colega e amiga da ECA – USP dos…

Foto: Fernanda Pompeu Foto: Fernanda Pompeu
Eu e Marilda em algum ano do século passado. Foto: Raghy.

Eu e Marilda em algum ano do século passado. Foto: Mario Dalcendio.

Marilda & Eu é uma seção experimental do Fernanda Pompeu Digital. A proposta veio da Marilda Carvalho – colega e amiga da ECA – USP dos anos 1970. Nossa geração, além de fazer política, adorava experimentar. Éramos entusiasmados com o processo fosse qual fosse o resultado. Águas debaixo da ponte e cada uma foi experimentar em um canto. Marilda sempre amou o teatro, eu sempre a amei a escrita literária ou não. Fiquei por Sampa, ela foi para o Canadá. Agora essa maravilha chamada internet nos une novamente. Textos que uma começa e outra termina. Confira aí:

Fernanda Pompeu
São Paulo são muitas.
Mas duas chamam a atenção. A São Paulo da avenida São João com homens de chapéus e mulheres com salto alto. Todos se protegendo da garoa que molha e inspira poesias. Avenida São João do Paulo Vanzolini, Adoniran Barbosa, Novos Baianos e Caetano. São João do Edifício Andraus em chamas e do filé do Moraes. Fora do tempo dos relógios, dentro do tempo do coração.

A outra São Paulo é a da avenida Paulista. Onde todo paulistano e turista que passear, comprar, se expressar. Ricos e pobres, esquerda e direita a elegeram ícone dinâmico da cidade. A arquitetura – eclética como ela só – ajuda nessa noção de território de todos. É o palco do réveillon, das torcidas de futebol, da parada gay, dos sindicatos e dos empresários. Paulista mais contemporânea do que a São João, mas também sua herdeira.

Marilda Carvalho
Montreal é assim.
Difícil de explicar tamanha a diversidade de rostos e expressões que se vê no metrô
e de segredos que não se vê.

Na plataforma de espera os videozinhos das tevezinhas repetem as mesmas notícias que deprimem ou promovem a fantástica cultura local
loucura total.
Um sentimento de deriva me invade sempre
na plataforma do metrô.

Montreal tem o Velho Montreal com suas lindas mansões de pedra, seus turistas felizes e ótimos sorvetes.
No bairro de Parc-Extension tem imigrantes paquistaneses, muçulmanos muitos, e senhores gregos.

Os brasileiros estão espalhados um pouco por toda a cidade querendo e não querendo ser brasileiros.
O bairro português acolhe seus desejos humildes de farinha de mandioca e suco de maracujá.
Impossível não ser melancólica nessa parte do mundo que foi rejeitada pelos franceses e pelos ingleses e que tenta se fazer amar pelos milhares de imigrantes que chegam aos borbotões em pequenas ilhas flutuantes.

Tem sinos de igreja, tem sonetas de escola.
Tudo, ou quase tudo, funciona
mas meu coração bate assim nesta disritmia.


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2 respostas para “Sampa – Montreal”

  1. Avatar cida santos disse:

    Essa foto, hein! Muito legal. Li um outro Marilda e eu e perguntei como vcs fizeram os texto, se previamente combinado…Ah, essa internet!!

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