O porquê

O PORQUÊ Hoje sonhei com o meu site. Tive a impressão de estar em um quarto sem janelas. Sem porta também. Incomodou. Ao acordar pensei que…

Ilustra: LS Raghy Ilustra: LS Raghy

O PORQUÊ
Hoje sonhei com o meu site. Tive a impressão de estar em um quarto sem janelas. Sem porta também. Incomodou. Ao acordar pensei que as redes sociais me contaminaram para sempre. Nelas, a gente se relaciona – ora leve, ora intensamente. O site é mais fechado.

Então decidi começar esse Diário Digital e, óbvio, compartilhá-lo. Talvez, algumas pessoas se interessem por conversar sobre sites e outras plataformas digitais. Toda essa história é novinha demais. Foi só partir de 2002 (mais ou menos) e começamos a experimentar a internet, ao mesmo tempo, autoral e colaborativa.

MELHOR POSSÍVEL
Penso que por mais antenados, conectados, eletrônicos que sejamos, ainda somos prisioneiros de formas tradicionais de comportamentos. Por exemplo, a ânsia por escolher lados, a insistência em eleger anjos e demônios.

Gente! O cenário é mais complicado. Estou de fato convencida que cada um de nós deve escolher seu pedacinho de trabalho, atuação, participação. E, é claro, fazer o melhor possível dentro da faixa escolhida.

Pouco? Para mim é muito!

ÓRFÃ DE GUTENBERG
Qualquer um, com o mínimo de discernimento, sabe que dormimos e acordamos em uma época de crise. Mas ela vai muito além de conjunturas econômicas e políticas. Bem além das nossas próprias angústias e frustrações.

Creio que vivemos uma crise de passagem de um mundo para outro. Trata-se de momento especial: novas maneiras possibilitadas e impostas por ambientes digitais todavia convivem com velhas formas de expressão e comunicação.

Eu me sinto uma das órfãs de Gutenberg. Por conta disso, cuidar do meu Site é muito mais exigente do que apenas postar conteúdos. É fato que me orgulho deles. Trata-se de uma produção que abarca mais de 30 anos.

Mas para tornar o Site vivo, para atrair passageiros a fim de navegar, preciso queimar as pestanas à procura de estratégias, lides, novas formas de compartilhar. Não tenho a pretensão de sair da crise, meu objetivo é me virar o melhor que posso dentro dela.

DIFERENTE E IGUAL
Na minha época de estudante, usávamos à farta a expressão “falsa questão”, quando queríamos dizer que determinada pergunta era inútil, ou estava deslocada. Por exemplo, gastei bons anos me perguntando: Existe uma escrita feminina? Mulheres escrevem diferentemente dos homens?

Teclas que rolam, segui escrevendo. Hoje acho que mulheres escrevem diferente entre si. Homens também. É claro que o componente gênero conta. Serei sempre uma mulher em qualquer circunstância. Mas o resultado do que escrevemos não tem nada a ver com ser homem ou mulher. Portanto, escreve-se bem ou mal independentemente do sexo de cada qual.

Outra “falsa questão” – mais atual – é perguntar: A escrita digital muda a maneira de se escrever? Talvez sim. Um pouco. Há uma preferência dos leitores por textos mais curtos. Há uma tendência dos escritores em não desprezar o gosto dos leitores. Mas o resultado tem mais a ver com a velha arte de juntar frases do que com as novidades digitais. Portanto, escreve-se bem ou mal independentemente do canal.

PlÁSTICA CEREBRAL
Dizem os estudiosos do cérebro – de neurolinguistas a cirurgiões – que nossa massa cinzenta tem plasticidade. Em outras palavras: se modifica de acordo com os ambientes cognitivos.

Daí, podemos concluir que depois da prensa do Gutemberg (século 15), a cabeça dos humanos se modificou com a massificação da leitura. Na esteira, vieram livros, jornais, panfletos, reclames impressos.

Então somando dois mais dois, com as tecnologias digitais, o cérebro de cada um de nós está dando cambalhotas. Pois a comunicação – seja literária, seja comercial – surge na ponta do polegar. Se deparo com algo que gosto muito, meu cérebro ordena nos mesmo minuto: Compartilhe!

DEIXAR RASTROS
Demorei bom tempo para entender a história dos rastros digitais. Quem me ajudou bastante nisso foi o professor Carlos Nepomuceno. Faz anos ele bate na tecla de que vivemos uma revolução cognitiva.

Ou seja, plataformas digitais, redes sociais, aplicativos significam muito mais do que simples mudanças de veículos. O que assistimos não é uma virada incremental – como foi a TV frente ao rádio. Estamos participando de uma autêntica ruptura.

Parecido com a fábula João e Maria. Eles deixavam miolos de pão para sinalizar o caminho de volta. Hoje, a gente tenta deixar rastros digitais para que nos encontrem. Melhor ainda, para que haja encontros e por consequência trocas de todos tipos. Inclusive trocas cognitivas.

MUTANTES
O contrário de nativos digitais são dinossauros analógicos? Não creio. Um dos efeitos espetaculares da revolução cognitiva digital tem sido a massificação sem precedentes das novas tecnologias. Tome senhorinhas usando smartphones, senhorzinhos navegando em bancos onlines. Mais ainda, sexagenárias, como eu, criando sites e compartilhando, compartilhando.

Considero Mutantes os nascidos nos anos 1950 / 1960. Passei a infância vendo TV de válvula e em preto e branco. O telefone era de disco, pesado, preso à tomada. iPhode era vitrola. Celular tinha a ver com células do organismo. Lista que segue. Não esqueço quando meu saudoso pai me presenteou com uma máquina de escrever eletrônica portátil – Praxis 20 da Olivetti.

Dois anos depois, minha Praxis ficou irrelevante. Chegaram os PCs. Puxa, que espanto! Nunca mais a coisa parou. Eu tive que mudar. Muito mais do que isso: aprendi a mudança contínua, intensa, irremediável. Por isso sou mutante, pois vivi e abracei a grande virada.

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