Plin, fim

Eu cresci ao lado dela

Arte Régine Ferrandis Arte Régine Ferrandis

Agora a TV entra em um novo momento. Deixou de ser analógica. É digital. Sua história se parece com a de muita gente que nasceu analógica, como eu.

Quando alguém fala mal da internet, milhões de vozes (ainda bem) se erguem em sua defesa. O que não ocorre com a televisão – a Geni dos meios de comunicação de massa. Todo mundo, alguma vez em algum momento, atirou pedras nela.

Foi chamada de burra, alienada, máquina de fazer loucos, babá eletrônica. Esta última função segue ativa. Levanta a mão quem não usou a tv para acalmar crianças e velhinhos.

O primeiro aparelho de tv que conheci tinha jeitão de frigobar de hotel, com uma tela que os olhos de hoje diriam ridícula de pequena. Para ver grande, você tinha que sair de casa, pegar fila, pagar e mergulhar no cinema.

Mas não era só o tamanho. De ruim a péssima, a qualidade da imagem em preto e branco variava com o humor dos ventos nas antenas. E a grade de programação era super tímida. TV fechada, Netflix, YouTube não existiam nem no sonho dos visionários.

Minha primeira tv era da minha avó. Na casa dos meus pais não tinha, pois tevês eram para gente rica. Dá vertigem pensar que, 67 anos após ter começado no Brasil, ela está presente em qualquer birosca na Amazônia e na maioria acachapante dos quartos hospitalares.

O aparelho se tornou o mais banal entre os eletrodomésticos. Quem não tem uma tv em casa não é brasileiro. Ou é maluco das ideias. É certo que tenho algumas amigas que não têm tv. Elas dizem que podem ver tudo pelo computador. Num certo sentido, continua sendo tv, né?

Mas apesar da quase unanimidade do uso, ela segue maltratada. Ainda há pais que preferem que seus pimpolhos cresçam longe dela. Alegam ser ela  vulgar e só querer vender coisas e ideologias. Acho que esse é o lado sombra da tv, que também existe em cada um de nós. Mas ela tem sua porção de luz.

A poção mágica de emocionar a imaginação. O que fazia com que eu e meus irmãos grudássemos como imãs naquela tv desengonçada eram as histórias que ela contava com sons e imagens. Tudo era legal, até as propagandas.

Mamãe botava a turma na cama depois do comercial dos cobertores Parahyba: Já é hora de dormir, não espere mamãe mandar, um bom sono pra você e um alegre despertar. Ela nem precisava falar, a gente sabia.

Crianças e adolescentes dos dias atuais são chamados de nativos digitais – gente que nasce metendo o dedão nos tablets e celulares. Pois creio que os nascidos nas décadas de 1950 e 1960 são os nativos televisivos. Gente que, como eu, não consegue separar infância de televisão.

Leia A audiência em 2017 

 


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Uma resposta para “Plin, fim”

  1. […] TV brasileira, a maioria acachapante dos produtos e serviços são vendidos por jovens e adultos. Velhinhos e […]

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