O tempo de cada um

A juventude se engana

Arte Carvall Arte Carvall

Em 1989, no bairro judeu-coreano-paulistano do Bom Retiro, quando a Oficina Cultural Oswald de Andrade ainda se chamava Oficina Três Rios, participei de um curso de redação literária. Na época as oficinas de escrita criativa não eram esse arroz de festa que são hoje.

Por exemplo, para ser aceito no curso de redação o candidato tinha que enviar um texto – da própria lavra, como se dizia – e acender velas para o São Machado de Assis enquanto aguardava o resultado.

Minha turma era uma matilha de jovens. Ávidos para abocanhar os atalhos (não os caminhos) que nos levassem da febre da ideia ao texto perfeito. Apesar de nos declararmos modernos, tínhamos o romantismo na cabeça e pressa de grana e fama.

Depois caímos no mundo que nunca pediu que alguém escrevesse qualquer coisa. Quanto aos colegas, não sei. Nos perdemos. Mas eu com a escrita só consegui trabalho duro e trabalho duro. Também muito aprendi. O principal: só quem trilha os caminhos, descobre os atalhos.

Lembro que no último dia do curso da Três Rios, em aula de avaliação, o escritor-professor sugeriu que eu abraçasse a arte da crônica. A matilha concordou entusiasmanda. Besta então, tapei os ouvidos.

Meu modelo de escritora era a da romancista, criadora de tramas polifônicas de grande fôlego. Então eu fazia a seguinte imagem: romancista igual a comandante de avião, cronista igual a comissária de bordo. Considerava a crônica um gênero minguado.

O relógio disparou. A vida deu cambalhotas. Nos últimos anos sou cronista até a medula. É um banquete me dedicar ao texto curto, coloquial. Leve como filhote de passarinho.

Poderia ter agarrado esse gênero – útil e fútil, como alguém já definiu, – há muito mais páginas. Porém, havia caído no conto de que o sonho é mais digno que a vigília. O ideal superior ao real. Não são.

Tem também Como se faz uma crônica


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