É o mar – Júnia Puglia

Conheci a Júnia Puglia faz quase 20 anos. Trabalhamos juntas na revista Maria, Maria do então Unifem, hoje ONU Mulheres. Por conta da revista fizemos algumas…

A partir de foto do Roberto Linsker A partir de foto do Roberto Linsker

Conheci a Júnia Puglia faz quase 20 anos. Trabalhamos juntas na revista Maria, Maria do então Unifem, hoje ONU Mulheres. Por conta da revista fizemos algumas viagens. A mais especial foi a Nova York, um ano antes do 11 de setembro de 2001. Júnia, eu e a fotógrafa Nair Benedicto nos divertimos pra valer. A revista Maria, Maria acabou, nós seguimos e fortalecemos a amizade. Um tempo depois descobri que a Júnia Puglia é uma cronista maravilhosa. Você pode conferir abaixo:

Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
“Timoneiro” – Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho

Foi preciso o mestre Paulinho da Viola falar comigo na garagem do supermercado, espremido lá dentro do sistema de som, numa gravação já meio gasta, e me lembrar que a gente, no princípio e no fim das contas, não controla nada. Quando muito, acha que controla. O imponderável é que faz da vida uma grande aventura, ó clichê campeão!

Por mais previsível, arrumada e planejada que seja, ela pode virar do avesso de repente, como eu havia confirmado, desconcertada e meio incrédula, ao término do genial e surpreendente filme “Fargo”, que assisti pela primeira vez há poucos dias. Num cafundó dos Estados Unidos, onde tudo parece previsto e determinado desde sempre, uma ideia radical, executada por três idiotas, produz umas dez mortes em série, em coisa de dois ou três dias, enquanto a maioria das pessoas cumpre sua rotina, protegida pela espessa neve e pela mesmice congelada.

De lista em punho, percorro as prateleiras e corredores, saboreando a canção da garagem, que me soou como um pequeno brinde do acaso, num momento de reflexão dominada pela consciência aguda do tempo, o mesmo que corria sem a menor importância vinte ou trinta anos atrás. É um bruxo, esse tal de tempo, que se deixa abusar à vontade, até aquele momento em que notamos sua existência, e ele então se abanca em algum canto e passa a nos observar e a trabalhar, como as câmeras de segurança dos elevadores, caladas mas implacáveis.

Voltei para casa armando mentalmente o cardápio do almoço e me entreguei à tarefa de prepará-lo. Cozinhar sempre me alegra e me ajuda a refletir. Neste caso, me permitiu fazer uso do brinde e aproveitar a fresta de luz aberta pelo Timoneiro. Inútil esquentar o juízo. Quem me navega é o mar.

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